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Orkut, Twitter e a nova era..


No artigo do dia 09/07/09 na Gazeta Amparense escrevi sobre o assunto. Recebi alguns questionamentos do porque critiquei a matéria de capa da Veja de semana passada, onde ela trata as redes sociais da internet como “Sozinhos.com”.

Só pra você entender por que discordo da Veja.

A solidão independe de internet, é uma questão pessoal. Se uma pessoa sente solidão porque não consegue manter relações pela internet, é por que ela já não tem essas relações na vida real. Como vai ler abaixo, a internet é apenas uma ferramenta. Relações de amizade não se fazem pela internet, ela apenas é uma ferramenta que traz agilidade a esses contatos.

Quem pensa em buscar na internet o preenchimento do vazio de sua vida real, já começou errado, ou seja, vai continuar na solidão.

O Orkut, que a Veja também retrata como ferramenta de preenchimento do vazio afetivo, é usado pela maioria das pessoas para reencontrar amigos e conhecidos da época de escola, na faculdade, na infância, e também os atuais amigos. Ninguém discute pelo Orkut questões emocionais. Talvez uma minoria sim, mas a Veja trata como a maioria absoluta. O Orkut é usado para colocar fotos que você deseja, e trocar mensagens publicamente com outras pessoas, mas principalmente para organizar com muito mais facilidade e agilidade aquele churrasco do fim de semana, ou a festa de aniversario de alguém, etc… Quase ninguém usa o Orkut pra contar um problema pessoal. Essas coisas só podem ser feitas com olho no olho. Talvez no MSN sim, mas porque você tem a privacidade de trocar as mensagens apenas entre duas pessoas, mas mesmo assim, elas em 99,9% das vezes já mantém uma relação estreita na vida real.

O que a Veja faz os leitores pensarem, é que essas ferramentas são apenas para manter relações afetivas, quando na realidade, a maior parte dos usuários as usam como ferramenta de busca e difusão de informação e um meio de organização de mobilizações sociais independente da distancia, cultura, ideologias, etc…

Os grandes meios de comunicação, com a razão deles, logicamente vão tentar desmoralizar esses movimentos, pois como mostrado na entrevista do Marcelo Tas abaixo, estamos no início de uma nova era na comunicação, e essa nova era vai causar uma queda enorme no número de leitores e assinantes desses grandes meios de comunicação, como já vem acontecendo ha algum tempo. O Estadão, por exemplo, está com campanha na TV em que pede ao novo assinante que estabeleça o preço da assinatura do primeiro mês no valor que ele acredite que o jornal mereça. Trocando em miúdos, PELO AMOR DE DEUS, PAGUE QUANTO QUISER, MAS ASSINE. Claro que sempre vai haver uma minoria que use essas ferramentas de modo errado (para questões afetivas), e é justamente o que a Veja trata como maioria, ou até mesmo como absoluto. E é por isso que não dá pra acreditar nela… rsrs

Só um pequeno exemplo. A própria Veja tem um perfil no Twitter. Mas ela não fez uma citação sequer sobre isso na matéria. Por quê?

Por que o perfil da Veja no Twitter apenas divulga links de suas matérias, colunas, etc. Traduzindo, a Veja utiliza o Twitter para divulgação e difusão de informação, só as dela, é lógico. A Veja não utiliza o Twitter para relações afetivas, como a maioria dos usuários também não. Pena que ela retrate de outra maneira na revista.

Se ela citasse que usa o seu perfil no Twitter para divulgação de informação, teria que dar maior ênfase no assunto, pois estaria admitindo que precisa participar dessa nova era pra não ficar para trás.

É por isso que finalizo o artigo do jornal com “Está aí uma nova era. Prepare-se…”, por que realmente não existe exagero quando cito isso.

Do blog do Marcelo Tas:

O twitter já revolucionou a comunicação
Abaixo, copio entrevista concedida ao Blog do Link, caderno de tecnologia do jornal “O Estado de São Paulo”. Curiosamente, ou não por acaso, apesar de publicada em 05/07/2009, apenas na internet, foi uma das entrevistas que mais gerou comentários dos leitores, via e-mail, twitter e outras redes sociais. Hoje foi parar na home do Yahoo! Brasil.

Ana Freitas, para o Blog do Link

Após uma semana agitada na relação entre política e internet (e um coronel amapaense no meio), o jornalista Marcelo Tas faz um balanço do que, afinal, merece atenção. Apoiador e divulgador do #ForaSarney, ele defende a mobilização pela internet mas critica alguns métodos adotados por partidários da campanha. Em entrevista ao Link por telefone, Tas citou a palavra “revolução” nove vezes e falou sobre jornalismo, política e internet.

Você acha que o Twitter vai revolucionar a comunicação?
Não, eu acho que já revolucionou. Acho que já influenciou e mudou muito a comunicação.

Qual sua posição sobre todo o caso envolvendo o #ForaSarney e as celebridades no Twitter?
Antes de mais nada, fico muito aliviado por ainda termos pessoas indignadas com o Sarney. Acho maravilhoso que uma molecada tenha tido a iniciativa de criar a tag e começado a se manifestar. Esse episódio aí (das celebridades que foram convidadas a participar da mobilização) para mim é muito pequeno. É uma coisa que ganhou uma dimensão… não há nenhum interesse em ficar falando em “subcelebridades”. Pra mim (as pessoas que convidaram as celebridades) são pessoas equivocadas sim, e a maneira como eles pediram essa ajuda ao Ashton [Kutcher] foi totalmente ingênua e boboca, para usar palavras muito elegantes. Mas isso para mim teve nenhuma importância. O mais importante foi ver a molecada gerando esse barulhão na internet contra o Sarney.

Ainda que essas manifestações tenham ficado só na rede e poucos tenham comparecido de fato aos locais marcados pra manifestação?
Esse é o jeito analógico de pensar. Quando você fala que o pessoal não compareceu, está se baseando em algo como as Diretas Já, né? Mas nas Diretas demorou um ano e meio pra botar 300 mil pessoas na rua. O #ForaSarney em uma semana mobilizou, saiu matéria em tudo quanto é jornal, e já decretam que foi um fracasso. Se estão criticando as pessoas que foram, quem está errado? Quem foi ou quem não foi? Vi um monte de nerds, em alguns lugares como o Amapá, foram 50 pessoas. Acho isso incrível, primeiro porque o Amapá foi o lugar onde foi eleito o Sarney. E aí as pessoas acham que foi um fracasso. O que me interessa é que tem gente colocando pra fora sua indignação. Jovens que sempre foram tratados como alienados, que “só ficam sentados no computador”, quando tiram a bunda do computador são criticados porque são poucos?

Então exagero pensar em revolução pela internet?
Não, com a internet não. A revolução se faz com pessoas. (A internet) É apenas uma ferramenta, e não é a única. Eu acredito que revolução pra valer, de gente séria, se faz com educação. É a revolução que foi feita na Coreia, e é essa a revolução que me interessa. É o país que tem maior adoção de banda larga e de telefonia celular do mundo, onde a internet não foi tratada com preconceito, mas como uma ferramenta. Nosso erro é olhar pra internet como se ela tivesse vida, como se ela fosse uma pessoa. Ela não é uma pessoa, ela é uma ferramenta como uma caneta. Depende de como a gente usa. O nosso caso, que é bastante grave, é que as pessoas que saem na frente levam porrada de quem tem medo da mudança, como foi essa molecada do #ForaSarney. Tem umas pessoas que ficam torcendo contra, e ficam pintando eles como se eles fossem uns bobocas. Eu não tenho esse tipo de preconceito. Não participei das manifestações, até porque eu, como apresentador do CQC, não tenho que tomar partido ou vestir a camisa de uma causa. Mas apoiei ajudando a divulgar por um motivo muito simples: eu acho o Sarney uma doença para o Brasil.

Não foi ingenuidade dos partidários de Sarney minimizar a campanha?
A cabeça dele é analógica, é a cabeça de um coronel que já fechou televisões e jornais. O Sarney já chegou a tirar do ar a Rede Globo no Maranhão. É um cara que domina o mundo analógico, mas desconhece o digital e começa a levar seus tombos. A mesma coisa aconteceu com o ACM. O coronel manda prender, manda sumir com gente. Não tenho duvida de que o Sarney vai ser soterrado pela opinião publica.

Diante desse panorama político de uma liberdade de expressão inédita na humanidade, você acha é possível censurar a internet?
Não dá. E isso é curioso, por conta do DNA da internet, que é descentralizado. É uma espécie de armadilha do destino para esses tiranos, mesmo na China. Lá, os nerds conseguem driblar o firewall, a muralha digital chinesa. Não é todo mundo, mas um faz um buraquinho, outro faz outro e a muralha digital vai cair que nem a grande muralha. Você acha que os iranianos teriam tido condição de fazer a mobilização que fizeram sem o Twitter?
Não dava. Eles não teriam tido a abrangência e a velocidade que conseguiram. Nós estamos acompanhando em tempo real. Por exemplo, a menina que levou o tiro e caiu no asfalto. A gente viu aquela imagem umas horas depois, o mundo inteiro viu. Há três anos isso provavelmente não aconteceria. Esse é um exemplo muito evidente de algo que já está entre nós.

É o fim da barreira entre fã e ídolo, político e eleitor…
Isso é algo que está aí e vai se aprofundar. O fã realmente vive muito próximo, como o cara que trouxe a informação [sobre a agressão] do Danilo. Ele sabia que eu estava online. Ele não só se sente perto de mim como está perto de mim. Quanto mais você troca informação com seu público, mais constrói relação de confiança. E isso é o que aqueles meninos não souberam fazer, no episódio das “subcelebridades”. Eles (celebridades) foram falar de um assunto que não faz parte da vida deles. Falaram do #ForaSarney como se aquilo fosse uma brincadeira. O papo mais idiota que existe é o ‘vamos botar no Trending Topics’ (assuntos mais comentados do twitter). A importância disso é zero, e quem pensa desse jeito são pessoas velhas, acostumadas a falar de ibope. A internet não é sobre audiência – não adianta você querer inflar seus seguidores do dia pra noite.
É sobre ‘cauda longa’, sobre uma maioria que não é uniforme, como eram os seguidores da novela das oito. Era uma manada de gente que nem sabe porque está vendo a novela. Na internet não, o cara que é meu seguidor no Twitter sabe porque é meu seguidor. Não adianta de uma hora pra outra você querer bombar seus seguidores. No mundo virtual, as coisas têm que ser muito reais. Outro jeito das pessoas pensarem é “quero ficar famoso, então vou lá falar com o apresentador do ‘Big Brother'”. Tem muita gente que me pede “Marcelo, me dá um tweet que eu quero ficar famoso”. É gente totalmente equivocada.

Na internet, você acha que as movimentações vão sempre estar na mão das pessoas?
Não gosto muito desse negocio de ‘está na mão do povo’, porque povo foi uma palavra desmoralizada pelos políticos.

Mas pense no povo como uma coisa bonita.
É uma ferramenta mais democrática, não tenho dúvida.

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Quando decidi escrever algo sobre o Senado, minha primeira atitude foi visitar o site do Senado Federal (www.senado.gov.br) e elaborar uma listagem dos nomes mais conhecidos e ‘respeitados’.

Pronto! Terminei a lista!

Pensei sobre o que já havia planejado fazer, comentar nome por nome para mostrar em detalhes o que nós, eleitores, podemos rejeitar nas próximas eleições. Antes de começar a escrever pensei também no que iria propor ao final do artigo, pois já que vamos tirar alguns do poder, temos que colocar outros. O texto travou… Apaguei a lista… Não adianta falar em rotação de poder enquanto o sistema eleitoral é a principal causa das grandes vergonhas de nossas casas legislativas. Vai ser 6 por meia-dúzia. Quem podemos colocar lá?

Dúvida cruel. E não é exagero! A grande maioria da nossa população vive com o insuficiente. Se não passa fome, tem dívida até o pescoço e vive iludido por uma mídia dominada por grandes parceiros da ditadura. A grande parcela politizada da classe média, incluindo a classe artística, assiste a tudo calada, anestesiada talvez por tanta sujeira e cara-de-pau sempre presente na classe política, em qualquer nível. O restante divide-se em poderosos, políticos ou não, que dominam nossas instituições municipais, estaduais e federais e uma pequena, mas muito persistente parcela da população tupiniquim consciente de tudo o que é preciso ser corrigido, mas ilhados por um país de dimensões continentais que tem sua capital no meio do nada, talvez para evitar que essa parcela da população consiga se unir.

Porém, o tempo tratou de corrigir um erro provocado por ‘visionários’ que enxergaram na construção de Brasília, um meio de afastar o povo do poder para que pudessem criar seus ‘bunkers’ secretos para orgias não tão secretas assim. O tempo trouxe a internet, a banda larga (de péssima qualidade), a tecnologia, e a divulgação de informação livre.

Muitos dos leitores de jornais e revistas, penso eu que a maioria, não tem idéia do que se passa pela rede hoje. Afirmo isso porque era um leitor apenas desse tipo de meio de divulgação de informação e quando me deparei com as realidades que transitam livremente pela internet, fiquei espantado! Consegui entender por que muitos dizem que os meios de comunicação deixaram de vender informação ao público e passaram a vender o público a seus anunciantes.

Com a facilidade e agilidade em publicar textos através de sites, blogs e outros, uma pequena parcela de barulhentos começaram e ser ouvidos. E quando você ouve uma verdade muito bem embasada, fica difícil de ignorar.

Você pode perguntar: o que de tão importante assim está sendo tratado por essas pessoas?

E eu respondo: muita sujeira! É preciso muito estômago!

Mas acredito que o mais importante não são os escândalos e sim a discussão pública e livre de temas que dizem respeito ao nosso país e ao futuro de nossas famílias.

E a discussão, divulgação, e debate público de informações realmente importantes têm um único caminho a ser percorrido, que levará aos tão desejados movimentos sociais, a ação! O Twitter, por exemplo, que conheci por pura curiosidade, mas que me mostrou ser excelente ferramenta de união de pensamentos comuns, e que a Veja tratou como a solidão virtual em sua capa de semana passada, está se tornando num poderoso meio de interação e união de pessoas com interesses e ideais comuns. Ao contrário da solidão, retratada pela semanal do Grupo Abril, o Twitter nas semanas passadas conseguiu unir pessoas em diferentes cidades no mesmo horário para protestar contra os desmandos do bigode mais odiado desse país, José Sarney.

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO, CAMPINAS, BELO HORIZONTE, GOIÂNIA, JUIZ DE FORA, PORTO ALEGRE, CAMPO GRANDE, MANAUS, RECIFE, FLORIANÓPOLIS, NATAL, MACAPÁ.

Essas foram as cidades onde aconteceram protestos organizados pelo Twitter. Na grande mídia, nenhuma notícia. O que já era esperado, afinal receber milhões e milhões em investimentos publicitários deve ter um preço. Mas, mais uma vez, o único meio livre de divulgação de informação, a internet, teve papel fundamental na cobertura dos protestos, tanto que motivou entrevista no ‘Estadão’ com Marcelo Tas, que você pode conferir em http://marcelotas.blog.uol.com.br no arquivo do dia 07/07/2009. Quando perguntado sobre uma possível censura na internet, Tas afirmou: “Não dá. E isso é curioso, por conta do DNA da internet, que é descentralizado. É uma espécie de armadilha do destino para esses tiranos, mesmo na China. Lá, os ‘nerds’ conseguem driblar o firewall, a muralha digital chinesa. Não é todo mundo, mas um faz um buraquinho, outro faz outro e a muralha digital vai cair que nem a grande muralha. Você acha que os iranianos teriam tido condição de fazer a mobilização que fizeram sem o Twitter? Não dava. Eles não teriam tido a abrangência e a velocidade que conseguiram.”

A cobertura do protesto em Brasília você pode conferir em: http://bit.ly/f3Aee

Vale lembrar os protestos no Irã, onde o MUNDO soube em cerca de duas horas do assassinato de uma estudante protestante através do Twitter, o que foi o estopim de toda aquela manifestação social que estamos assistindo até hoje. Vale lembrar também que os blogs tiveram papel fundamental na divulgação de informação, já que a imprensa foi proibida de mencionar qualquer tipo de informação.

Está aí uma nova era, prepare-se…

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Do Blog Fazendo Media


MÍDIA E POLÍTICA: RELAÇÕES PERIGOSAS
por Rafael Maia

Num momento em que grandes conglomerados de mídia do Brasil e do mundo passam por dificuldades financeiras e reformas emergenciais para sobreviver há que se questionar a validade da concentração dos meios de comunicação, que torna o acesso e a produção de informações cada vez menos democráticos.

As principais empresas de comunicação do país estão endividadas e, como informou o Jornal do Brasil (25/10/03), o governo estuda a possibilidade de usar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para auxiliá-las, sob a alegação de que não seria bom para a economia nacional se essas empresas recorressem aos bancos privados e ao capital estrangeiro.

Políticos e até mesmo empresários de mídia criticaram a iniciativa do governo. Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, disse ao JB que o financiamento do BNDES limitaria a liberdade dos meios de comunicação. Octavio Frias de Oliveira, proprietário do Grupo Folha, em entrevista publicada na AOL em 23 de outubro, afirmou que, com essa medida, “o governo quer a mídia de joelhos”.

Diante de tais declarações, pode-se chegar a pensar que a mídia brasileira não mantém qualquer vínculo com o poder constituído e que, contrariando alguns teóricos da comunicação, ela não faz parte desse poder.

Vendendo o público

Ignacio Ramonet, diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, pensa o contrário. Em seminário no 3º Fórum Social Mundial, realizado em janeiro deste ano em Porto Alegre, Ramonet afirmou que a idéia de que a mídia atua como quarto poder, defendendo a sociedade do abuso dos outros poderes, não é mais válida. Para ele, a maior parte dos grupos de comunicação hoje se une ao Poder Executivo para oprimir o cidadão. Ramonet acredita que, com o processo de globalização e a conseqüente formação dos conglomerados midiáticos, o objetivo de informar se diluiu entre outros interesses.

De fato, a lógica que rege essas empresas é a do mercado. Fatores como qualidade, diversidade cultural e criação artística estão subjugados ao caráter mercadológico da informação e da comunicação. Não à toa, a cotação das empresas de comunicação na bolsa de valores é o fator determinante de seu sucesso e a moeda de troca utilizada na expansão dos conglomerados. Ramonet, no artigo “Senhores das redes”, publicado em junho de 2002 no Correio Braziliense, afirma que o faturamento das empresas de comunicação em 2000 representou 10% da economia mundial (algo em torno de 4 trilhões de reais).

Se a preocupação maior dessas empresas é a cotação de suas ações, não fica difícil concluir que interessa a elas atrair o maior número possível de consumidores de seus produtos (jornais, revistas, canais de TV etc.), num processo que transforma o próprio consumidor em produto. Afinal, os meios de comunicação há muito deixaram de vender informação ao público e passaram a vender o público a seus anunciantes.

Quadro assustador

Os efeitos maléficos do poderio dos conglomerados de comunicação no que diz respeito à democratização da informação e da sociedade são conhecidos e apontados há tempos por teóricos da comunicação. No artigo “As redes de TV e os senhores da aldeia global”, publicado em 1991, Argemiro Ferreira cita um estudo do jornalista norte-americano Ben H. Bagdikian, ao constatar que “os gigantes da mídia (…) têm duas enormes vantagens: ‘controlam a imagem pública dos líderes nacionais que, em razão disso, temem e favorecem as pretensões dos magnatas da mídia; e estes controlam a informação e o entretenimento que ajudam a estabelecer as atitudes sociais, políticas e culturais de populações cada vez maiores’”.

A concentração dos veículos de comunicação nas mãos de um pequeno número de empresas simultaneamente concorrentes e aliadas gera discursos unilaterais, padronização informacional, ideológica e cultural e o pior, desinformação, visto que só chega ao conhecimento público o que for de interesse dos grandes conglomerados. Argemiro Ferreira aponta a existência de uma perigosa censura nos meios de comunicação, já que, por vivermos numa sociedade supostamente democrática, tal censura se configura de modo informal e quase imperceptível. O objetivo de cada um dos conglomerados é tornar-se o único interlocutor dos cidadãos. Para tanto, não medem esforços na tentativa de monopolizar todo o processo de produção e divulgação da informação. No entanto, as recentes crises nas companhias nacionais e internacionais – como o caso da Vivendi, grupo francês que em 2002 pôs parte de suas empresas à venda para pagar dívidas – têm provado que as intenções monopolizadoras são bastante pretensas.

Mesmo assim, o quadro de concentração de mídia no Brasil assusta. O relatório “Donos da mídia”, publicado no ano passado pelo coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Daniel Herz, revela que seis redes privadas nacionais abrangem 667 veículos, entre emissoras de TV, rádios e jornais. Uma realidade ainda muito distante da desejada pelos defensores de uma comunicação democrática.

Agonia em rua deserta

“Temos de começar a compreender que as ondas no ar, as freqüências de rádio e TV, são um recurso precioso. Pertencem ao povo, que não sabe disso porque nos últimos oitenta anos elas foram tomadas pelos colonizadores empresariais. Tanto a televisão quanto o rádio têm grande potencial para a educação e para enriquecer a democracia”, diz Steve Rendall, analista sênior do grupo Fair (Justiça e Precisão na Reportagem), no artigo “Uma só voz”, de Glauco Faria, publicado em abril na revista Fórum.

É necessário compreender que democratizar a comunicação é garantir a todo cidadão não só o direito de acesso, mas o de produção de conteúdo dos meios, mesmo que com o auxílio ou o intermédio de um profissional de comunicação. O importante é que os diversos grupos sociais sejam ouvidos e tenham à sua disposição veículos nos quais possam expor suas idéias e ter suas necessidades específicas atendidas.

Por lei, o acesso à comunicação é direito de todos. Mas a mesma lei dificulta, por exemplo, o processo de legalização e manutenção de rádios e TVs comunitárias. Os poucos que conseguem legitimar-se raramente conseguem manter-se segundo as imposições legais. Para esses meios não há socorro do BNDES. O resultado desse processo é a proliferação de veículos ilegais que são constantemente perseguidos e fechados pelo Judiciário. Em outras palavras, o que se observa a cada dia no Brasil é o aumento do abismo entre os detentores e os consumidores dos meios de comunicação. É a democracia agonizando numa rua deserta e escura.

Matéria de capa da edição # 8 do FM impresso

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