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Posts Tagged ‘BRASIL’

O Brasil tem em suas mãos uma oportunidade única de enfrentar e questionar as nações sobre tanta vista grossa até agora. Os Jogos Olímpicos em 2016 e a Copa do Mundo em 2014 podem consumir muito dinheiro público se nada for feito. Este é um tema que deve sim ser discutido já nas eleições deste ano, antes que seja tarde. Os planos já estão aí via DEM de Kassab e PSDB de Serra na cidade de São Paulo. 

Estes eventos devem trazer desenvolvimento e visibilidade ao Brasil, não assaltos aos cofres públicos para as máfias que comandam a FIFA, COI, COB e CBF. 

Do Portal Luis Nassif Online:

Como entender o escândalo do Piritubão

Enviado por luisnassif, dom, 27/06/2010 – 19:28

 

Do Estadão

 

A ginga perfeita dos donos da bola – suplementos – Estadao.com.br

 

A Fifa controla o dinheiro, marca os adversários e dribla a Justiça

Flavia Tavares, de O Estado de S. Paulo

Um dos escândalos relatados por ele em 2006, no livro Foul! The Secret World of Fifa (não traduzido no Brasil), teve um desfecho na sexta-feira. Altos dirigentes da organização máxima do futebol receberam propina, admitiu a Justiça suíça. Mas eles não serão punidos porque a lei do país, que é sede da Fifa, permitia o “bicho” na época.

Os figurões pagarão apenas os custos legais e suas identidades não serão reveladas. “É por isso que meu segundo livro sobre o tema será uma comparação da Fifa com o crime organizado”, conta. Ele optou por publicar a obra depois das eleições na entidade, em maio de 2011, embora duvide que alguém vá enfrentar o dono da bola, Joseph Blatter. “Ninguém ousa desafiar a Fifa porque eles controlam o dinheiro. E a imprensa cala”, dispara Jennings.

Nas investigações sobre a Fifa, o que o senhor descobriu?
A Fifa é comandada por um pequeno grupo de homens – não há mulheres em altos postos da entidade e isso fala por si – que está lá há muitos anos. São homens em quem não devemos confiar e contra quem temos provas contundentes. Eles podem continuar no poder porque controlam o dinheiro. E tornam a vida dos dirigentes das confederações nacionais muito boa e fácil. Fico envergonhado porque ninguém se manifesta contra esse poder.

Como os dirigentes se manifestariam?
Zurique, sede da Fifa, é uma Pyongyang do futebol. O líder fala e os outros agradecem. Numa democracia é esperado que haja discordância, oposição. Na Fifa, não há. Eles têm um congresso a que, ironicamente, chamam de parlamento. São cerca de 600 delegados – acho que são 2 ou 3 por país representado, e são 208 países. Se você chegasse de Marte acharia que o mundo é perfeito, porque todos concordam. É vergonhoso. Nisso, a CBF é tão culpada quanto todas as outras confederações.

Que instrumentos a Fifa usa para manter esse poder?
A Fifa dá cerca de US$ 250 mil por ano para cada país investir em futebol. Na Europa, não precisamos desse dinheiro. A indústria do futebol fatura o suficiente para se alimentar. Mas é uma forma de a Fifa se manter. Esse dinheiro nunca é auditado. Na Suíça, a propina comercial não era ilegal até pouco tempo, apenas o suborno de oficiais do governo. O caso que eu conto no meu livro é justamente sobre um esquema de propinas pagas pela International Sport and Leisure (ISL), empresa que negociava os direitos televisivos e de marketing da Fifa. A história é cheia de detalhes, mas no final a ISL só foi responsabilizada pelo fato de gerenciar mal seus negócios enquanto devia para outras empresas.

Não houve punição?
Como eu disse, o pagamento de propina não era ilegal na Suíça. Portanto, não havia crime a ser punido. As acusações contra a Fifa foram retiradas e a entidade foi multada em 5,5 milhões de francos suíços (cerca de US$ 5 milhões) para custos legais.

Por que os governos não se envolvem ou a Justiça não faz algo?
Porque a sede da Fifa é na Suíça e a lei lá é muito permissiva. Para outros países, é inaceitável que esses homens se safem tão facilmente e que os altos dirigentes riam da nossa cara desse jeito. O que me deixa enojado é que os líderes dos países – o primeiro-ministro britânico, o presidente Lula e todos os outros – façam negócio com essas pessoas. Eles deveriam lhes negar vistos, deveriam dizer que não querem se relacionar com dirigentes tão corruptos. E tenho certeza de que, se os governantes se voltassem contra a corrupção da Fifa, teriam apoio maciço dos torcedores/eleitores.

Por que todos são tão complacentes?
Suponhamos que você seja uma torcedora fanática pelo seu time. Você vai à Copa do Mundo, mas como sempre há escassez de ingressos. Você então compra suas entradas de cambistas, mesmo sabendo que parte desse ágio vai voltar para o bolso da Fifa, já que ela é suspeita de liberar esses ingressos para os ambulantes. Você não pode provar, claro, mas você sabe. As pessoas não são estúpidas. Os governos menos ainda, eles podem investigar o que quiserem. Mas não investigam a Fifa porque os políticos simplesmente ignoram os torcedores. É o que já está acontecendo com a Copa de 2014. Qualquer brasileiro com mais de 10 anos sabe que a corrupção já está instalada. Por que ninguém faz nada?

Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.

O Brasil tentou fazer uma investigação, por meio de uma CPI.
Tentou e foi ao mesmo tempo uma vitória para o país e uma grande decepção, porque pararam de investigar no meio. O povo vai ter de pressionar os políticos a fazer algo. É realmente uma pena que o Brasil tenha chegado tão longe na investigação e tenha desistido no caminho. Havia provas para seguir em frente, para tirar a CBF das mãos do Ricardo Teixeira e, quem sabe, colocar auditores independentes lá dentro. A Justiça também poderia ser mais ativa. Por mais que eles tenham comprado alguns juízes, não compraram todos, certamente.

Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?
Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.

Então, a corrupção não interfere tanto no esporte?
Cada centavo que os dirigentes tiram ilicitamente da Fifa ou das organizações nacionais é dinheiro que eles tiram do esporte e de investimentos. Portanto, estão desviando de nós, torcedores, e dos atletas que jogam no chão batido em países subdesenvolvidos. Eles tiram dos pobres.

É possível para os jogadores, técnicos e dirigentes se manterem distantes da corrupção no futebol?
Bom, o dinheiro normalmente é tirado do orçamento do marketing, não afeta jogadores e técnicos dos times nacionais. Uma coisa interessante é o comitê de auditoria interna da Fifa. Um dos membros é José Carlos Salim, que foi investigado muitas vezes no Brasil. Por que você acha que ele está lá? Para fingir que não vê.

A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?
Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me avisaram do caso.

O senhor se sente uma voz solitária na imprensa?
Não confio na cobertura esportiva das agências internacionais. Em outras áreas elas são ótimas. Não no esporte. É uma piada. Apresento documentários com denúncias graves sobre a Fifa na BBC, num programa de jornalismo investigativo chamado [ITALIC]Panorama[/ITALIC], e dias depois a BBC Sport faz um programa inteiro em que Joseph Blatter apresenta alegremente a nova sede da Fifa em Zurique.

O senhor acompanhou a briga do técnico Dunga com a imprensa brasileira?
Não vou comentar o episódio porque não acompanhei de perto. Posso dizer que a imprensa inglesa e a da maioria dos países é puxa-saco. E sem razão para isso. A desculpa é que os editores têm medo de perder o acesso às seleções e à Fifa. Bobagem. Ora, eu fui banido das coletivas da Fifa sete anos atrás e ainda consegui escrever um livro e fazer várias reportagens. A imprensa deve atribuir as responsabilidades às autoridades. Se não fizer isso, é relações públicas. Tenho milhares de documentos internos da Fifa que fontes me mandam e não param de chegar. Por que só eu faço isso?

A cobertura se concentra mais no evento esportivo em si e nas negociações de jogadores?
Exato, também porque a chefia das redações tende a se concentrar nos assuntos de política nacional, internacional e na economia e deixar o esporte em segundo plano.

O que o senhor espera da Copa no Brasil, em 2014?
Há algumas semanas, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um piti público cobrando o governo brasileiro para que acelerasse as construções para a Copa. Estranhei muito, porque não imagino que o governo brasileiro se recusaria a financiar uma Copa. Vocês são loucos por futebol, estão desenvolvendo sua economia, têm recursos e podem achar dinheiro para isso. Uma fonte havia me dito que Valcke e Ricardo Teixeira tinham tirado férias juntos, estavam de bem. Então, o que está por trás dessa gritaria? É pressão para o governo brasileiro colocar mais dinheiro público nas mãos da CBF. Mundialmente, as empreiteiras têm envolvimento com corrupção. Dá para sentir o cheiro daqui.

Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são predominantes no futebol?
Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma cultura gângster.

A corrupção no COI diminuiu com a saída de Samaranch?
Vou ilustrar com uma história. No meu site publiquei uma foto de Blatter cumprimentando um mafioso russo, em 2006, em um encontro com dirigentes do país. O russo foi quem fez o esquema em Salt Lake, na Olimpíada de Inverno de 2002, para que os conterrâneos ganhassem o ouro em patinação artística. Pois bem, Blatter, Havelange e muitos outros da Fifa são parte do comitê do COI. Essa é a dica de como a Rússia está agindo para sediar a Copa de 2018.

Foi assim que o Brasil conseguiu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016?
Na votação em Copenhague, que deu a sede olímpica para o Rio de Janeiro, o nível de investigação jornalística foi ridículo, só víamos a praia de Copacabana com o povo feliz. Há um grupo no COI que já foi denunciado por receber propina no escândalo da ISL – e quem acompanha a entidade sabe quem eles são. Os dirigentes dos países só precisam pagar umas seis ou sete pessoas para conseguir o voto. Existe, com certeza, uma sobreposição entre os métodos da Fifa e do COI. Mas a cultura das duas entidades não é tão estrita quanto à de uma máfia, é mais como se fossem máfias associadas, apoiadas umas nas outras. Coca-Cola, redes de fast-food, Adidas, você acha que essas companhias não sabem o que está acontecendo? Eles não são estúpidos. A cara de pau é tamanha que Jacques Rogue, presidente do COI, disse em Turim, em 2006, que o COI e o McDonald’s compartilham os mesmos ideais. Será que ele não sabe quanto a obesidade infantil é um problema gravíssimo em vários países? Ou faz parte do jogo ceder a esses interesses?

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Hoje, ao ler um post no Blog do Noblat, me deparei com a constatação de um argumento que sempre vejo nos debates sobre privatização de empresas exploradoras de recursos naturais, o investimento em pesquisas para novas explorações como aconteceu com o pré-sal. Fica muito claro que, se a Petrobrás tivesse sido privatizada, o capital internacional que a dominasse nunca iria enfrentar uma pesquisa trabalhosa e arriscada como as pesquisas do pré-sal. Caras, inovadoras e com grande risco de um tiro no pé, mas que se bem feitas, resultam em enormes avanços ao país. Como já resultou.

Uma empresa internacional, exploraria o que já está encaminhado e utilizaria os lucros para investir em pesquisas muito mais baratas em exploração de petróleo na Venezuela, na África, etc e tal. E para esses lugares rumaria, após secar nossas reservas de petróleo já descobertas. Em outra hipótese, faria uma parceria com uma empresa inglesa irresponsável qualquer, que viria aqui explorar o petróleo em alto mar, com grandes chances de uma nova catástrofe como a do Golfo do México.

Fico imaginando aqui com meus botões, qual seria a condenação, caso um acidente das mesmas proporções fosse causado pela Petrobrás. A mídia, lambedora de sapatos imperiais, adoraria se lambuzar em óleo para divulgar ao povo brasileiro, e a quem quisesse ouvir, que o Brasil deveria é continuar sendo um país de terceiro mundo refém dos mandos e desmandos das organizações internacionais controladas pelo primeiro mundo.

Mas essa é uma outra história. Esse post aqui é pra mostrar que o capital internacional está “pouco se lixando” – como diria um nobre deputado sobre a opinião pública – para o desenvolvimento do Brasil. Pois bem, temos a Vale privatizada por FHC/Serra, uma das maiores mineradoras do mundo, explorando nosso subsolo a sua maneira, a todo gás, e com investimentos em pesquisas insignificantes. No post que reproduzo a seguir, vemos que alguns minérios estão em vias de esgotamento, sem que se tenha encontrado novas áreas alternativas para exploração. Onde será que o capital comandante da Vale está investindo em pesquisas? No Brasil é que não é!

Deu em O Globo

País perde corrida na mineração

Em novas áreas de exploração, Brasil fica atrás de Chile e Peru, além de Canadá e Austrália

Gustavo Paul

À margem do interesse envolvendo as descobertas de petróleo no pré-sal e a construção de hidrelétricas, as pesquisas por novas áreas de exploração no setor de mineração brasileiro vêm interessando menos os investidores nacionais e estrangeiros.

Nos últimos anos, a incerteza diante das regras do setor e o pouco avanço nas pesquisas geológicas estão fazendo o Brasil perder terreno para vizinhos como Chile e Peru e ficar bem distante de concorrentes de peso, como Canadá e Austrália.

Sem novas áreas de exploração, o setor mineral está consumindo o que já é conhecido, em níveis recordes. Os investimentos apontam cifras inéditas: podem chegar a US$ 54 bilhões, de 2010 a 2014, para produzir quase cem minerais diferentes.

O valor da produção mineral deve alcançar US$ 30 bilhões este ano, cerca de US$ 6 bilhões a mais do que no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

O consultor Luciano de Freitas Borges, ex-secretário de Mineração do Ministério de Minas e Energia, adverte que não ocorrem descobertas de grande porte no Brasil há vários anos.

É o que constata o Ibram: dos 52 grandes depósitos minerais descobertos até hoje no Brasil, apenas três (5,7%) foram encontrados depois de 1988.

— A reposição das reservas brasileiras de cobre e ouro, por exemplo, já está aquém do nível de expansão da demanda. Sem novas opções, a médio e longo prazos, a perspectiva é estagnar a produção e depois vê-la decair — alerta Borges, ressaltando que a exceção são as reservas de ferro, suficientes para cerca de 400 anos.”

E tem gente que ainda acha que a privatização é o ó do borogodó.

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#DormeComEssaEntaum

Pá..!!

Heheheheh…

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Sempre que debato sobre privatizações ouço argumentos a favor relatando a eficiência dos serviços privados, a falta de capital da estatal no período pré-entreguista, a falta de empenho dos servidores públicos e os investimentos injetados pelo setor privado depois de ganhar o direito de explorar um setor que antes era da nação, e não apenas de uma empresa/grupo.

O que eu sempre tento argumentar, e muitas vezes não sou compreendido, é que a privatização, seja ela qual for, acaba transferindo o controle de setores estratégicos e, é claro, lucrativos, para um grupo que, em quase na totalidade das situações, é estrangeiro.

Me canso de ouvir que isso não tem importância, pois o desenvolvimento trazido pela privatização nunca seria alcançado sem a privatização. Argumento, acredito eu, vazio, quando constatamos o tamanho desenvolvimento alcançado pela Petrobrás simplesmente abrindo seu capital, transformando-se em uma empresa de economia mista.

Hoje li um artigo, que posto abaixo, que trata dessa questão em âmbito internacional, relatando como se deu inicio a esse modelo e como teve grande apoio do império americano dentro de suas fronteiras, e por imposição a países economicamente fragilizados através de suas alianças e instituições sobre seu controle, como o FMI, fora delas.

Acredito que este artigo reforça meus argumentos, pois mostra como o governo americano concentrou os pontos estratégicos da nação norte americana na mãos de poucos, montando um sistema em que a riqueza produzida fosse controlada por parcela ínfima da população e os mais pobres recebessem apenas migalhas.

O que não se percebe aqui no Brasil, é que o sistema de privatizações adotado nos anos 90, além de reproduzir a concentração dos benefícios, acabou concentrando nas mãos de uma elite estrangeira, internacional, devido as ligações dos comandantes do poder daquela década com o setor econômico e financeiro internacional. No meu entendimento, um crime contra a nação. Um verdadeiro golpe da elite no povão.

Do Blog Engajarte:

Privatizações, a Pirataria Neoliberal

A privatização das estatais atingiram plenamente seus objetivos, há que se pensar em estratégia político econômica na sua gênese, concentrou propriedade, concentrou benefícios, distribuiu custos pela sociedade, isto é resultado de uma orientação política clara, com 100% de resultados atingidos.

Os políticos ou forças políticas da privatização tinham objetivos claros, nem podia ser diferente, e a situação atual reflete perfeitamente a diretriz e o êxito do programa.

Se alguém na época da privatização tinha outra expectativa, foi ingênuo, pois tudo isto foi alertado naquele momento.

O movimento iniciou nos governos Regan/Tacher, governos altamente conservadores, da direita dura, sua baliza era a tal da estratégia “pingadeira”, concentrar todos os benefícios na elite econômica, isenção de impostos, desregulamentação, privatização, e assim a concentração produziria excedentes financeiro que seriam reinvestidos gerando mais riqueza e lá no final pingaria alguma coisa para os setores mais baixos da sociedade.

O que resultou, óbvio, foi a super concentração de renda, mesmo nos EUA, país de vasta classe média, mudou a composição social, parecendo cada vez mais com um país de 3ºmundo, com concentração de riqueza e uma massa de pobres.

Este modelo foi forçado pelos EUA a todos os países que ele tinha influência, seja diretamente seja via FMI e Banco Mundial, principalmente depois do desaparecimento a União Soviética, pois, colocaram-se agressivamente disseminando um modelo único, na esteira do vácuo político ideológico que se seguiu ao fim da URSS.

A estratégia era assim, política, não de fundo “econômico”, e o que menos importava era a legalidade ou transparência, pois um processo de transferência de bens públicos para escolhidos privados, jamais poderia ser aberto, e assim foi em todos os países submetidos, desde Rússia oligarca até a Argentina Menemista.

Foi o maior processo de transferência de riqueza da história da humanidade, o que aconteceu no Brasil foi a mesma coisa, de vez em quando aparece alguma ponta obscura deste processo criminoso, e a sociedade Serra/Dantas na Flórida é isto.”

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Há alguns dias assisti entrevista do Supremo Presidente do Supremo, Gilmar Mendes, produzida pelo STF e veiculada em parceria com o youtube. Uma excelente forma de “conversa” com a população que enviou e votou nas perguntas que seriam feitas a ele sem nenhuma interferência do youtube ou do STF, mas que se transformou numa verdadeira arapuca pro coronel. Como alguns políticos que usam o twitter pra falar, em vez de fazer, Gilmar Mendes achou que estaria tudo sob controle naquilo que seria um marco no modelo de comunicação da mais alta corte brasileira, mas ele não imaginou que, sem o filtro da censura imposta pelo poder econômico que seleciona o que e como serão discutidos os assuntos no monopólio midiático nacional, o povo, as pessoas comuns, o colocou na parede, deixando-o em posição acuada como nenhum meio de comunicação conseguiu deixá-lo durante seu reinado. É, o povo sabe o que faz. O povo sabe pensar, apesar da tentativa de imposição de idéias e opiniões emplacada pelo quarteto Globo/Veja/Folha/Estadão. Segue artigo de Leandro Fortes, do blog Brasília, eu vi, e o vídeo da entrevista, é claro.  

Divirtam-se:    

Saída pela direita.

 

“No fim das contas, a função primordial do ministro Gilmar Mendes à frente do Supremo Tribunal Federal foi a de produzir noticiário e manchetes para a falange conservadora que tomou conta de grande parte dos veículos de comunicação do Brasil. De forma premeditada e com muita astúcia, Mendes conseguiu fazer com que a velha mídia nacional gravitasse em torno dele, apenas com a promessa de intervir, como de fato interveio, nas ações de governo que ameaçavam a rotina, o conforto e as atividades empresariais da nossa elite colonial. Nesse aspecto, os dois habeas corpus concedidos ao banqueiro Daniel Dantas, flagrado no mesmo crime que manteve o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda no cárcere por 60 dias, foram nada mais que um cartão de visitas. Mais relevante do que tudo foi a capacidade de Gilmar Mendes fixar na pauta e nos editoriais da velha mídia a tese quase infantil da existência de um Estado policialesco levado a cabo pela Polícia Federal e, com isso, justificar, dali para frente, a mais temerária das gestões da Suprema Corte do País desde sua criação, há mais cem anos.  

Num prazo de pouco menos de dois anos, Mendes politizou as ações do Judiciário pelo viés da extrema direita, coisa que não se viu nem durante a ditadura militar (1964-1985), época em que a Justiça andava de joelhos, mas dela não se exigia protagonismo algum. Assim, alinhou-se o ministro tanto aos interesses dos latifundiários, aos quais defende sem pudor algum, como aos dos torturadores do regime dos generais, ao se posicionar publicamente contra a revisão da Lei da Anistia, de cuja à apreciação no STF ele se esquivou, herança deixada a céu aberto para o novo presidente do tribunal, ministro Cezar Peluso. Para Mendes, tal revisão poderá levar o País a uma convulsão social. É uma tese tão sólida como o conto da escuta telefônica, fábula jornalística que teve o presidente do STF como personagem principal a dialogar canduras com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.  

A farsa do grampo, publicada pela revista Veja e repercutida, em série, por veículos co-irmãos, serviu para derrubar o delegado Paulo Lacerda do comando da PF, com o auxílio luxuoso do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se valeu de uma mentira para tal. E essa, não se enganem, foi a verdadeira missão a ser cumprida. Na aposentadoria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá tempo para refletir e registrar essa história amarga em suas memórias: o dia em que, chamado “às falas” por Gilmar Mendes, não só se submeteu como aceitou mandar para o degredo, em Portugal, o melhor e mais importante diretor geral que a Polícia Federal brasileira já teve. O fez para fugir de um enfrentamento necessário e, por isso mesmo, aceitou ser derrotado. Aliás, creio, a única verdadeira derrota do governo Lula foi exatamente a de abrir mão da política de combate permanente à corrupção desencadeada por Lacerda na PF para satisfazer os interesses de grupos vinculados às vontades de Gilmar Mendes.  

O presidente do STF deu centenas de entrevistas sobre os mais diversos assuntos, sobretudo aqueles sobre os quais não poderia, como juiz, jamais se pronunciar fora dos autos. Essa é, inclusive, a mais grave distorção do sistema de escolha dos nomes ao STF, a de colocar não-juízes, como Mendes, na Suprema Corte, para julgar as grandes questões constitucionais da nação. Alheio ao cargo que ocupava (ou ciente até demais), o ministro versou sobre tudo e sobre todos. Deu força e fé pública a teses as mais conservadoras. Foi um arauto dos fazendeiros, dos banqueiros, da guarda pretoriana da ditadura militar e da velha mídia. Em troca, colheu farto material favorável a ele no noticiário, um relicário de elogios e textos laudatórios sobre sua luta contra o Estado policial, os juízes de primeira instância, o Ministério Público e os movimentos sociais, entre outros moinhos de vento vendidos nos jornais como inimigos da democracia.  

Na imprensa nacional, apenas CartaCapital, por meio de duas reportagens (“O empresário Gilmar” e Nos rincões de Mendes”), teve coragem de se contrapor ao culto à personalidade de Mendes instalado nas redações brasileiras como regra de jornalismo. Por essa razão, somos, eu e a revista, processados pelo ministro. Acusa-nos, o magistrado, de má fé ao divulgar os dados contábeis do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), uma academia de cursinhos jurídicos da qual Mendes é sócio. Trata-se de instituição construída com dinheiro do Banco do Brasil, sobre terreno público praticamente doado pelo ex-governador do DF Joaquim Roriz e mantido às custas de contratos milionários fechados, sem licitação, com órgãos da União.  

Assim, a figura de Gilmar Mendes, além de tudo, está inserida eternamente em um dos piores momentos do jornalismo brasileiro. E não apenas por ter sido o algoz do fim da obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão, mas, antes de tudo, por ter dado enorme visibilidade a maus jornalistas e, pior ainda, fazer deles, em algum momento, um exemplo servil de comportamento a ser seguido como condição primordial de crescimento na carreira. Foi dessa simbiose fatal que nasceu não apenas a farsa do grampo, mas toda a estrutura de comunicação e de relação com a imprensa do STF, no sombrio período da Idade Mendes.  

Emblemática sobre essa relação foi uma nota do informe digital “Jornalistas & Companhia”, de abril de 2009, sobre o aniversário do publicitário Renato Parente, assessor de imprensa de Gilmar Mendes no STF (os grifos são originais):   

“A festa de aniversário de 45 anos de Renato Parente, chefe do Serviço de Imprensa do STF (e que teve um papel importante na construção da TV Justiça, apontada como paradigma na área da tevê pública), realizada na tarde do último domingo (19/4), em Brasília, mostrou a importância que o Judiciário tem hoje no cenário nacional. Estiveram presentes, entre outros, a diretora da Globo, Sílvia Faria, a colunista Mônica Bergamo, e o próprio presidente do STF, Gilmar Mendes, entre outros.”  

Olha, quando festa de aniversário de assessor de imprensa serve para mostrar a importância do Poder Judiciário, é sinal de que há algo muito errado com a instituição. Essa relação de Renato Parente com celebridades da mídia é, em todos os sentidos, o pior sintoma da doença incestuosa que obriga jornalistas de boa e má reputação a se misturarem, em Brasília, em cerimônias de beija-mão de caráter duvidoso. Foi, como se sabe, um convescote de sintonia editorial. Renato Parente é o chefe da assessoria que, em março de 2009, em nome de Gilmar Mendes, chamou o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), às falas, para que um debate da TV Câmara fosse retirado do ar e da internet. Motivo: eu critiquei o posicionamento do presidente do STF sobre a Operação Satiagraha e fiz justiça ao trabalho do delegado federal Protógenes Queiroz, além de citar a coragem do juiz Fausto De Sanctis ao mandar prender, por duas vezes, o banqueiro Daniel Dantas.      

Certamente em consonância com o “paradigma na área de tevê pública” da TV Justiça tocada por Renato Parente, a censura na Câmara foi feita com a conivência de um jornalista, Beto Seabra, diretor da TV Câmara, que ainda foi mais além: anunciou que as pautas do programa “Comitê de Imprensa”, a partir dali, seriam monitoradas. Um vexame total. Denunciei em carta aberta aos jornalistas e em todas as instâncias corporativas (sindicatos, Fenaj e ABI) o ato de censura e, com a ajuda de diversos blogs, consegui expor aquela infâmia, até que, cobrada publicamente, a TV Câmara foi obrigada a capitular e recolocar o programa no ar, ao menos na internet. Foi uma das grandes vitórias da blogosfera, até então, haja vista nem um único jornal, rádio ou emissora de tevê, mesmo diante de um gravíssimo caso de censura e restrição de liberdade de expressão e imprensa, ter tido coragem de tratar do assunto. No particular, no entanto, recebi centenas de e-mails e telefonemas de solidariedade de jornalistas de todo o país.      

Não deixa de ser irônico que, às vésperas de deixar a presidência do STF, Gilmar Mendes tenha sido obrigado, na certa, inadvertidamente, a se submeter ao constrangimento de ver sua gestão resumida ao caso Daniel Dantas, durante entrevista no youtube. Como foi administrada pelo Google, e não pelo paradigma da TV Justiça, a sabatina acabou por destruir o resto de estratégia ainda imaginada por Mendes para tentar passar à história como o salvador da pátria ameaçada pelo Estado policial da PF. Ninguém sequer tocou nesse assunto, diga-se de passagem. As pessoas só queriam saber dos HCs a Daniel Dantas, do descrédito do Judiciário e da atuação dele e da família na política de Diamantino, terra natal dos Mendes, em Mato Grosso. Como último recurso, a assessoria do ministro ainda tentou tirar o vídeo de circulação, ao menos no site do STF, dentro do sofisticado e democrático paradigma de tevê pública bolado por Renato Parente.      

Como derradeiro esforço, nos últimos dias de reinado, Mendes dedicou-se a dar entrevistas para tentar, ainda como estratégia, vincular o próprio nome aos bons resultados obtidos por ações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), embora o mérito sequer tenha sido dele, mas de um juiz de carreira, Gilson Dipp. Ministro do Superior Tribunal de Justiça e corregedor do órgão, Dipp foi nomeado para o cargo pelo presidente Lula, longe da vontade de Gilmar Mendes. Graças ao ministro do STJ, foi feita a maior e mais importante devassa nos tribunais de Justiça do Brasil, até então antros estaduais intocáveis comandados, em muitos casos, por verdadeiras quadrilhas de toga.      

É de Gilson Dipp, portanto, e não de Gilmar Mendes, o verdadeiro registro moralizador do Judiciário desse período, a Idade Mendes, de resto, de triste memória nacional.      

Mas que, felizmente, se encerra hoje.”      

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Vende-se!

“Aqui tem empresa de telecomunicações e de energia elétrica. Se você não é tão ambicioso assim, temos empresas de saneamento básico, rodovias, ferrovias e portos. Mas se sua empresa é de alto padrão de exploração, podemos te entregar uma petrolífera, uma mineradora e uns gasodutos que podem gerar lucros incalculáveis. Por quanto você pode levar? A preço de banana. Quer levar? Então você precisa ter uma empresa internacional. Isso basta? Não. Você precisa também trazer algum capital. Para investir em melhores serviços? Que nada amigão, é para comprar um congresso. Você ainda pode contar com um de nossos ministros do ‘Estado Mínimo’. Só isso? Ah, desculpe, já ia me esquecendo que você precisa ter um idiota traidor na Presidência da República.”

Brasil e Argentina tem muito em comum. Pelo menos tinham. Não, não falo de futebol. Os dois países passaram por situações semelhantes. Exploração colonial e devastação de culturas nativas são pequenos exemplos. Mais recentemente podemos citar as ditaduras e os governos privatistas. Será que conseguimos calcular quantos anos de atraso tais semelhanças nos acarretaram?

Quando este tema entra em debate, sempre ouvimos o velho blá blá blá de que o país não tinha dinheiro, que as estatais eram ineficazes e que o Estado não podia arcar com estes custos. Não podia mesmo. Mas também não devia ter entregado de mão beijada como fizeram Argentina e Brasil. Hoje temos, no caso do Brasil, como reflexo desse obscuro período, Teles que são as campeãs de reclamação e fornecedoras de péssimos serviços. Temos empresas de energia elétrica que lesam os consumidores cobrando mais que o devido. Temos uma mineradora que está entre as mais poderosas do mundo, comandada pela iniciativa privada. Temos a banda larga mais lenta e mais cara do mundo. Temos, talvez, as rodovias mais pedagiadas da América Latina e quando se trafega em rodovias não privatizadas, anda-se por verdadeiros lixos que não recebem o investimento devido para justamente servirem de motivação para novas privatizações e novos pedágios. Temos ferrovias sucateadas. Temos portos, que são talvez os mais importantes ‘portões’ de entrada e saída de todo tipo de coisa importada e exportada, nas mãos da iniciativa privada. Enfim, temos muito o que tomar de volta para nosso controle ainda…

Abaixo podemos conferir dois vídeos que assisti no blog Cloaca News. O primeiro retrata como foi o período privatista argentino e quais foram as consequências para o povo argentino. O segundo, apesar de nos trazer o mestre de todas as privatizações brasileiras, FHC, mostra quem, na verdade, é o grande adorador do tal ‘Estado Mínimo’ que se mostrou como um verdadeiro assalto ao Estado brasileiro.

Será que votar no Zé Pedágio é o melhor caminho para tirar o PT do poder? Quando será que a sociedade brasileira vai entender que a polarização PTxPSDB é maléfica para nossa democracia?

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Quando ouvimos e lemos notícias e matérias da grande mídia sobre o Irã e seu “possível” arsenal nuclear, não nos damos conta do tamanho da encrenca. Pouco se diz, na verdade quase nada, sobre os parceiros americanos detentores de ogivas nucleares, alguns deles não signatários do tão fundamental acordo para a paz mundial (sic) de “não-proliferação de armas nucleares”. Nada se diz sobre o histórico militar do Irã que nunca invadiu um país vizinho, salvo quando apoiado pelos E.U.A. para tomarem o poder de alguma ilhas egípcias. Nada se diz sobre a dependência dos países emergentes em tecnologias nucleares. Não vejo uma vírgula sequer sobre a limpeza étnica que Israel faz no Oriente Médio, mas apenas é passada a noção de que o regime Iraniano, que não segue os princípios democráticos defendidos por nós brasileiros, é um perigo a paz mundial quando, na verdade, quem perturba a paz mundial é quem detém ogivas nucleares clandestinamente, e que curiosamente, não é, nunca, interpelado pela dita “comunidade internacional”.

Encaminho alguns links que nos ajudam a entender melhor, através de uma análise geopolítica sobria, as víceras dessa grande falácia da paz mundial através da imposição de idéias que não condizem com a verdade.

http://bit.ly/8YLluF – Noam Chomsky em entrevista à publicação alemã Freitag.

http://bit.ly/aHMqmC – artigo de Breno Altman, jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi.

http://bit.ly/96O00a – artigo de Beto Almeida – A meu ver, o mais esclarecedor deles.

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Sabe aqueles dias em que você fica indignado com alguma coisa? Foi como fiquei ontem depois de ver uma matéria sobre a seção solene do Congresso Nacional onde, após muita pressão de suplentes de vereadores – e, é lógico, seus partidos – foi aprovado o aumento de número de vereadores em todo o país. São quase 8.000 novos vereadores com suas “turmas”. Assessores, secretárias, verbas pra isso, verba pra aquilo… E lá vai mais um poucão do nosso dinheirinho suado… O relator da PEC 336/2009 disse que não haverão crescimentos nos gastos das câmaras municipais, mas você acredita em políticos?

Vi ainda que alguns vereadores suplentes da região do ABC paulista já buscaram no judiciário uma tentativa de garantir o recebimento da diplomação imediatamente, e não só em 1º de janeiro de 2010 como se esperava. E tem mais, querem receber também os salários retroativos desde janeiro de 2009. É brincadeira? Como você aí, que pagou imposto na compra desse jornal, aceita isso tão passivamente? Por que você aí, leitor, não se junta ao indignado autor aqui, e ao padeiro ali, ao empresário, ao professor, ao funcionário da limpeza, à madame da loja, ao dono do bar, ao policial, ao amigo do futebol, às amigas da balada, para PROTESTAR?

Li no site de um jornal de Amparo que: “(…). A emenda foi promulgada pelo Congresso na quinta-feira, dia 18, entrando em vigor imediatamente. Toda a discussão foi realizada com as galerias do Plenário do Senado lotadas de suplentes de vereadores, que estavam em Brasília desde o início da semana para a votação. (…)”

Só em Amparo, serão mais 5 vereadores. Um crescimento de 50% do dia para a noite. Porque não era o POVO a estar lá fazendo barulho CONTRA esse absurdo?

Por que os visionários que inventaram Brasília – a ilha dos privilégiados – sabiam que esse povo sem educação de qualidade, sem saneamento básico, sem CULTURA para protestar com argumentação, não iria atravessar o país pra reclamar. A classe média, anestesiada pelo consumismo capitalista e pela mídia manipuladora – que enfia goela abaixo suas novelas de temática suja, consumista, que venera as celebridades da ignorância e os pseudo-artistas – está totalmente calada. Incrivelmente calada, diria. A nós, cidadão comuns, não cabe apenas sermos honestos. Precisamos também cobrar de nossos representantes a mesma honestidade que cobramos de nosso filhos, de nossos amigos, parceiros, clientes, patrões. Cabe a nós, unir-mos para parar o país até que as reformas necessárias sejam iniciadas por iniciativas populares, pois os donos do poder não irão fazê-las.

Por onde anda toda aquela classe artística influente que lutou contra a ditadura? Alguns mamam nas tetas do governo. Outros, nas tetas da mídia. Os que restam, estão sabe-se lá onde, calados também. Porém, as raras excessões existem! Como vou mostrar a seguir, num texto de autoria de Elisa Lucinda, chamado ‘Só de sacanagem’, lido pela cantora Ana Carolina na gravação de seu DVD ao vivo:
“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do NOSSO dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.

Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais!
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a MENTIRA DOS MAUS BRASILEIROS venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro! A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
” – Não roubarás!”
” – Devolva o lápis do coleguinha!”
” – Esse apontador não é seu, minha filha!”

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: MAIS HONESTA AINDA EU VOU FICAR! Só de sacanagem!

Dirão:
“ – Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”

E eu vou dizer:
”- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez! Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”

Dirão:
” – É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.

E eu direi:
” – Não admito! Minha esperança é imortal!”

E eu repito:
” – Ouviram? IMORTAL!!! Sei que não dá pra mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!”

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Como já mencionei neste espaço, está claro o uso eleitoreiro – a favor e contra Dilma – de tudo o que vemos na grande mídia sobre o pré-sal. É fato também que, como todas as grandes descobertas deste país desde o pau-brasil, passando pelas minas gerais, Amazônia e jogadores de futebol, alguns ainda acreditam que entregar de bandeja nossas riquezas à exploração sem limites de grupos internacionais seja a melhor forma de gerir nossos recursos naturais.

Quando saímos da discussão superficial liderada pela mídia golpista e buscamos nos aprofundar na discussão dos reais interesses da nação quanto ao direcionamento e uso de seus recursos naturais, percebemos que grande parte da população – por interesse pessoal e/ou partidário e/ou por falta de conhecimento – entende que a melhor forma de exploração de nossos recursos naturais seja por meio de privatizações ou concessões para empresas estrangeiras ou de capital aberto.

Mas quando buscamos as argumentações que vão em direção contrária, ou seja, que o Estado deve sim estar no comando da situação, não temos argumentos que possam convencer-nos do contrário. Também concordo que o Estado tem muitas falhas, ainda, quanto à gestão dos recursos vindos de tais riquezas, como podemos ver na questão das rodovias estatais. Quando privatizadas nos proporcionam abissal diferença de qualidade de asfalto, de segurança, sinalização, mas em troca nos cobram taxas e mais taxas de pedágio, que no estado de São Paulo – que está nas mãos do PSDB desde que eu era um simples material genético em formação – levantaram mais de 3 bilhões de reais para as empresas privadas em dez anos de concessões. Um verdadeiro assalto ao contribuinte que já paga impostos ao Estado, que é quem deveria proporcionar tudo o que a concessionária proporciona.

Olhando mais a fundo, o que as empresas que levantaram bilhões dos bolsos do brasileiro investiram em troca? Investiram em outros meios de transporte? Não. Investiram em outras rotas alternativas? Não.

O mesmo devemos considerar para as empresas detentoras de nossos recursos naturais. Se a Petrobras tivesse virado Petrobrax – como queriam os tucanos de FHC – e tivesse sido privatizada, a empresa ganhadora da concorrência descobriria o pré-sal? Ela investiria em tecnologia 100% nacional para a extração de petróleo e refino? Você acredita que uma empresa, cujo único interesse é o capital, investiria numa milionária pesquisa de uma quase impossível exploração do pré-sal ou numa tradicional pesquisa de exploração de petróleo na África ou na Venezuela?

Quando pensamos na auto-suficiência, estudos mostram que o Brasil vai consumir até 2040 cerca de 100 bilhões de barris de petróleo. Os mesmos 100 bilhões estimados nos campos de pré-sal se 100% dos campos encontrados forem 100% exploráveis. E, ao contrário de que alguns pensam, 2040 está logo ali.

Portanto, se uma empresa estrangeira tomar conta das decisões sobre os limites de exploração, com certeza ela irá explorar ao máximo os recursos do pré-sal, e quando menos esperamos, estaremos comprando petróleo estrangeiro dessa mesma empresa que estará explorando outro país de trouxas. Além disso, se é que alguém pensa que é pouco, não será do interesse da empresa estrangeira investir em outras fontes de energia. Ou você acha que existe algum lobo bonzinho na selva capitalista preocupado com o futuro da humanidade?

Se pensarmos mais a frente, sobre o desenvolvimento sustentável do país, temos que estar cientes de que a extração de nossos recursos naturais deve ser controlada pelo Estado para que ele busque na exploração inteligente os recursos para o financiamento de avanços em outros setores da sociedade. O Estado deve regular a velocidade da exploração de maneira que encontre o equilíbrio para que a economia do país não fique dependente do petróleo e que, ao mesmo tempo, sustente e atenda a demanda interna de consumo de combustíveis fósseis, viabilizando também pesquisas em novas tecnologias e fontes renováveis de energia. Mesmo a idéia de a Petrobras tomar conta sozinha dos recursos do pré-sal é enganosa, pois como ela explicará à seus acionistas o direcionamento da produção ao mercado interno quando o mercado externo oferecer valor maior?

Os mais antigos lembram que antes no Brasil era necessário acelerar a produção de petróleo para atender o consumo interno, mas os jornalões sempre condenaram a criação e os investimentos na Petrobras. Hoje se ajoelham perante sua grandeza e influência no desenvolvimento do país. E ainda que critiquem os investimentos nas pesquisas do pré-sal, já aprenderam a lição, e não tentam mais impedir, mas sim desestabilizar uma das Estatais mais importantes do mundo.

O problema não está no controle dos recursos por parte do Estado, mas sim no controle do Estado por parte dos cidadãos. Se não sairmos “às ruas” para parar o país e frear bruscamente a corrupção, qualquer iniciativa será fracassada, mas nenhuma seria tão ignorante quanto à entrega do controle de nossas riquezas a grupos internacionais.

Partilha sim, privatização NUNCA!

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Dá medo de ler. Não pelo tamanho, mas pelo conteúdo. Conheça a história (suja) recente de nosso querido país.

Quando vamos ter força pra fazer alguma coisa???

Do Blog São Paulo em Pauta:

“O delegado Protógenes Queiroz deu uma entrevista de seis horas, de 14h30 a 20h30, e saiu lamentando que faltou contar mais coisas, por exemplo a máfia russa e o magnata Boris Berezovsky. Por meia hora, ainda conversou conosco enquanto esperava o táxi. Discorreu que Daniel Dantas, o banqueiro, pode mandar muito, mas é apenas um “braço” de algo mais poderoso – quem sabe o Citigroup? Gravado mesmo, contou histórias arrepiantes. Algumas frases dele ao acaso colhidas dão ideia: “É muita picaretagem!”, “A mentira perdura pouco, a verdade é eterna.”, “Você vai investigando, vai dar nas construtoras, na concorrência pública, e nos políticos”. E sobre um dos casos cabulosos que investigou ficou este diálogo bastante sugestivo:

PROTÓGENES: QUEREM ESSA HISTÓRIA?

TODOS: SIM!

PROTÓGENES: VOCÊS NÃO VÃO DORMIR DIREITO.

MYLTON SEVERIANO – Vamos começar esquentando as turbinas. Onde nasceu, a infância, os pais.
PQ: Sou filho de branco com preto. Nasci em 20 de maio de 1959, em Salvador. Meu pai era da Marinha de Guerra, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial. Aos meus três meses, foi para o Rio, participar de uma intervenção. Era o almirante Protógenes Guimarães. Por isso meu nome. Minha mãe embarcou num avião da FAB, eu e meus outros nove irmãos. Primeiro fui morar num bairro de Niterói, Barreto, num sobrado de frente pra praia.

MYLTON SEVERIANO – Você estudou em Niterói?
PQ: Isso. Tinha uma igreja do Barreto, a gente tinha que assistir a missa, participar das festas. Eu gostava, era criança, tem que estudar, ir para a igreja, brincadeira de rua.

MARCOS ZIBORDI – A família era como?
PQ: Minha mãe era de descendência africana, escravos, meu pai de portugueses, espanhóis, branco de olhos azuis, uma semelhança com aquele artista, Paul Newman. Meu pai é abandonado pela esposa, e minha mãe contratada para cuidar dos filhos. Aí ele se apaixona. Ela estava com quinze anos, e era muito bonita. Meus irmãos por parte de pai chamavam minha mãe de mãe e a mãe deles pelo nome, devido à relação materna bem forte. A família do meu pai tinha fazenda no interior da Bahia. Meu bisavô era padre: Antônio Pinheiro de Queiroz. Fundou uma cidade, Conceição de Oliveira dos Campinhos.

MARCOS ZIBORDI – Estudou em escola particular?
PQ: Não. Eu não gostava. Escola pública era melhor. No primário fui aluno razoável. No ginásio, você já começa a ser um pouco peralta. Sempre fui ativo. Meu pai era militar, lembremos, imaginava que o país poderia entrar em guerra e você teria que sobreviver sozinho. A gente tinha que plantar guandu, aipim, e colher. Eu adorava colher aipim, puxar a raiz, era divertidíssimo. Não gostava do guandu, aquela vagem machucava a mão. Minha mãe, semi-analfabeta, mas de um coração muito forte, era ligada a ajudar as pessoas, e meu pai mandava até fazer roupa. Sei sentar numa máquina e fazer um short, uma camisa. Em casa a gente ajudava a mãe a cortar roupas, pregar botão, fazer bainha. Você chegava ralado, minha mãe: “vai pra máquina cerzir, essa roupa tá boa ainda”. E também uma coisa peculiar de meu pai: ser bem informado. Antes do jantar, ele colocava o rádio sobre a mesa, tínhamos que ouvir a Ave Maria, a Voz do Brasil e depois o Repórter Esso. A voz do homem tá na minha memória até hoje.

MYLTON SEVERIANO – Heron Domingues.
PQ: Exatamente, depois é que íamos fazer a ceia, e no dia seguinte tínhamos que ler os jornais. Para ter o hábito. Eu lembro, tinha sete, oito aninhos, ir no jornaleiro e trazer aquele saco de jornais. E se precisava de dinheiro para um cinema, tinha que vender saco, garrafa. Deliberadamente meu pai não dava mesada, não. E passa a infância, vou para um colégio público, em 1970. Tinha dez, onze aninhos. O que mais me despertou foi eletrônica e eletricidade.

MYLTON SEVERIANO – Você foi da UNE?
PQ: Fui delegado da UNE, em 1980.

MYLTON SEVERIANO – E foi para o Direito deliberadamente?
PQ: Sim.

MYLTON SEVERIANO – Mas tinha despertado para a política, esquerda, direita?
PQ: Não, eu tinha consciência do que era certo, errado, meu pai era um crítico do regime.

CAMILA MARTINS – Estava na ditadura militar?
PQ: Ele homem do regime, mas crítico. Dizia que depois de Castelo Branco [chefe do primeiro governo militar, 1964-1966] não existia um governo militar que prestasse, que estavam cometendo muito excesso.

MYLTON SEVERIANO – E você pendeu para que lado?
PQ: No colégio, jogava futebol escondido, meu pai dizia que era coisa de vagabundo.

FERNANDO LAVIERI – Jogava bem?
PQ: Bem. Meu apelido no Niteroiense era Ferretão: magro, comprido. Um meio-campo avançado. E no colégio Hélder Câmara me desperta a atenção um professor de geografia chamado Milton, usava bolsa de couro, barbichinha. Um contestador. Falei “o canal é esse, área humana”. Montamos um minigrêmio. E, numa feira de ciências, a professora Marlene ficou orgulhosa, era a empreendedora, chamou autoridades, inauguração de novas salas, e destinou uma para o nosso trabalho. De madrugada, pichamos o muro: Terrorismo é ditadura que mata e tortura. Já causou um estrago danado. Aí tá lá o senador Saturnino Braga, o prefeito, comandante do Exército, da Polícia Militar, Marinha. E chega na nossa sala, trancada. Quando ela pediu para abrir, era uma sala de tortura. Tinha pau-de-arara com boneco, boneco com fio na cabeça. A professora “ah, meu Deus! Desculpe! Fecha tudo isso aí”. E minha turma espalhando jornalzinho, o Alerta Geral.

MARCOS ZIBORDI – O que estava escrito?
PQ: Pedíamos eleição direta, perguntávamos por que presidente general, pedíamos a melhoria do ensino, que tinha que ser público. E todo o mundo se mandou, a polícia atrás. Chegou a professora Marlene, meu pai falou “menino, você tá louco, os professores vão ser presos, cadê o jornal que você fez?”. Deu quase expulsão.

MYLTON SEVERIANO – Você tinha 17 anos?
PQ: É, 1976.

MARCOS ZIBORDI – É nessa idade que começam esses comunistas…
PQ: Exatamente. Vou estudar na Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, particular. Meu pai acreditando que tava fazendo engenharia. Tinha uma intervenção no diretório, comecei a contestar. Ouvi colegas dizer “você vai encontrar espaço para discutir no Centro Acadêmico da Nacional”.

MYLTON SEVERIANO – O Cândido Oliveira?
PQ: É, eu atravessava a Praça da República, ia conversar, comia no bandejão. E teve o congresso da UNE em Cabo Frio.

FERNANDO LAVIERI – Seu pai sabia?
PQ: Meu pai, quando descobriu que eu tava fazendo Direito, corta a mensalidade. Tinha o crédito educativo, fui pra Caixa Econômica fazer, com minha mãe.

MARCOS ZIBORDI – Por que ele não queria?
PQ: Dizia que advogado não presta. É, igual Lênin. Advogado, nem do partido, e ele era advogado. Mas entendi que dentro da advocacia ia contribuir mais que na área tecnológica. Estagiei na Defensoria Pública três anos. Saía dez, onze da noite. Ficava penalizado, as pessoas com senha, estavam sendo despejadas. E tenho contato com movimentos sociais, associação de moradores, começa a se formar um movimento social. As pessoas se organizando pra reivindicar. Conheço o pessoal da Contag [Confederação de Trabalhadores na Agricultura], para advogar para a Via Campesina, Sindicato dos Operários Navais, esse caminho até 1987, advogando para associações, partidos, PDT, PT…

CAMILA MARTINS – Chegou a se filiar?
PQ: Nunca quis, era me rotular. Eu tinha envolvimento com outros partidos, e uma formação forte dentro do Partido Comunista Brasileiro. Em 1982, o grupo da clandestinidade a que eu pertencia eram todos velhos comunistas, Hércules Corrêa, que faleceu há pouco. Obrigatoriamente você tinha que ler O Capital, de Karl Marx. E engraçado: hoje, com essa crise, onde é que os capitalistas estão lendo fundamentos para corrigir o erro? Está sendo obrigatória a leitura de Marx, Engels, Hegel. As corporações estão recomendando que seus diretores leiam.

MYLTON SEVERIANO – Vamos para sua ida para a Polícia Federal.
PQ: É. O encontro. Recebo convite para ser procurador-geral de São Gonçalo. Em 1992 me deparo com um pedido para ajudar num processo de impeachment de um prefeito, Aires Abdala. Falei para o vereador “vamos pegar fatos de repercussão nacional pra ecoar”. Peguei desvio de merenda escolar e remédios. Tinha criança desnutrida, e ele desviando. Botava pra vender em supermercado dele.

MYLTON SEVERIANO – Além de corrupção, cruel.
PQ: Beira o genocídio. Bebês morriam por falta de leite materno, que poderia ser suprido com leite que o governo dava. Ingressamos com processo, e deu resultado. Era o cacique político da região. E durante o processo foram muitas pressões, ameaças, tentativas de corrupção. Eu sabia que poderia sofrer uma decepção.

FERNANDO LAVIERI – Você temia problemas na votação?
PQ: Sim, a vida política é promíscua. O próprio processo eleitoral. Você chega a um eleitor, “o que você vai me dar?” Não pensa no coletivo. Parti para um jogo arriscado. A lei que regula o impeachment dizia que a votação é secreta. Era do regime militar. Falei “terá que ser aberta, quem for a favor do ladrão do dinheiro público vai prestar conta”. E o povo gritando “ladrão, ladrão”. Os advogados dele sorriram dizendo que estava contrariando a lei. Protestaram. E o povo aplaudindo.

PALMÉRIO DÓRIA – E você foi responsabilizado?
PQ: Não. Ganhei. E o doutor Evandro Lins e Silva, no impeachment do Collor, o que fez? Adotou. O processo já estava consolidado. O prefeito tinha que ir pra rua. Aí, no processo do Collor houve a mesma coisa. Perante o Supremo Tribunal Federal consolidou o processo. Percebeu-se que o mais democrático era o voto aberto.

PALMÉRIO DÓRIA – E você não é candidato?
PQ: Não. Eu não era, por que seria agora? Entendi que era mais útil à sociedade trabalhando de outra forma, cassando um prefeito, investigando corrupção. Em dez anos dentro da Polícia Federal veja o que produzi pra sociedade. Aí me desencanto. Atentam contra minha vida, sou agredido, iam me sequestrar, passo trinta dias escondido. “Vou é ser advogado e largar esse cargo.” Fui advogado, advogando para a colônia francesa, no Rio. E participo de uma concorrência pública representando duas empresas. A Constituição não permitia que empresa estrangeira participasse, a não ser como parceira de empresa nacional. A empresa que representei fez parceria com uma construtora. Ganhamos o processo para fazer a extensão do metrô Botafogo a Copacabana. E fomos surpreendidos por um ato de corrupção da Queiroz Galvão. Ela coloca um dormente que quebra a cada período. O que íamos colocar era de qualidade excepcional. E mais barato. Meus clientes falaram “estamos indo embora, não vamos investir nenhum centavo mais, é um país de ladrão, entre com uma ação indenizatória contra essa construtora”. Fiquei decepcionado.

WAGNER NABUCO – A ação está em andamento?
PQ: Ganhei em primeira instância, em segunda, está no STJ [Superior Tribunal de Justiça]. É uma ação de mais de 60 milhões.

MYLTON SEVERIANO – Contra a Queiroz Galvão?
PQ: Sim, e o Estado do Rio.

PALMÉRIO DÓRIA – Você vai ficar riquíssimo?
PQ: Nessa época comprei um Gol zero. E o carro pára a poucos metros, em frente a uma agência do Banco do Brasil. Vi um cartaz de concurso pra Polícia Federal. Delegado, agente, perito. Falei “hum… o caminho é esse”. Passei, escondido da sócia, não ia entender como eu ia largar uma carteira que ganhava de 30 a 50 mil dólares por mês, pra viver de salário de funcionário público. Tem momentos que você cuida da sua vida, tem momentos que você olha e vê que falta muito a construir. Não adianta construir pra si, senão você vai viver numa ilha.

PALMÉRIO DÓRIA – Era uma Policia Federal comprometida com…
PQ: Era uma guarda pretoriana do regime militar.

MYLTON SEVERIANO – Você acha que apuraram seu passado?
PQ: Acredito que sim. E fui chamado em 1998. Abandono as delícias da burguesia e vamos ser funcionário público. Aí vou pro Acre.

MYLTON SEVERIANO – Que situação você viu lá?
PQ: Autoridades ligadas ao narcotráfico. Rio Branco tinha 980 pontos de distribuição de cocaína. Uma coisa assustadora. Polícia Militar, Civil, Ministério Público, Justiça Estadual, prefeitura, governador, Assembleia, Câmara Municipal. Um juiz com ponto de drogas, desembargador viciado.

MYLTON SEVERIANO – Em que ano?
PQ: Em 1999. José Roberto Santoro era o procurador que me auxiliava. Abro inquérito por lavagem de dinheiro para o narcotráfico, quebra de sigilo bancário: governador, prefeito, exgovernador, Fernandinho Beira Mar que tinha ligação com o narcotráfico, com a narcoguerrilha colombiana, as Farc, o Hildebrando Pascoal [ex-deputado federal, o “homem da motosserra” que mandou cortar em pedaços um desafeto]. Aí o Santoro dá um parecer paralisando a investigação, dizendo que não poderia investigar [Hildebrando] por lavagem de dinheiro, tinha que comprovar que era narcotraficante. Não dei bola. Fizemos a prisão preventiva por grupo de extermínio. A primeira condenação foi por lavagem de dinheiro. Fechei a investigação em cima do Hildebrando e dos 40 que estavam com ele. Eu disse “doutor Santoro, o tempo é o senhor da razão”. Ele disse que eu estava vendo muito filme.

PALMÉRIO DÓRIA – E o Fernandinho Beira Mar?
PQ: Onde foi preso? Na selva colombiana, 1999. Saio com a missão concluída. Vou pra Brasília. E tinha um ofício para me apresentar em Foz do Iguaçu. Investigar lavagem de dinheiro, evasão de divisas no Cone Sul. Batizei de Operação Macuco [o “caso Banestado” – Banco do Estado do Paraná]. Macuco é típico da região, quem achar um ovo azul do macuco tem vida longa. Se todo o mundo procura e não está vendo, vamos ver se a gente enxerga. Foi um trabalho complexo, todo o mercado financeiro envolvido, internacional também, até o Banco Central do Paraguai. E o nosso.

PALMÉRIO DÓRIA – O maior vazador de grana do Brasil.
PQ: A maior lavanderia se instalou ali, e com apoio político. Começamos a escanear todo aquele processo, identificando os atores.

WAGNER NABUCO – O Gustavo Franco mudou a norma e permitiu que os bancos fizessem lavagem, não?
PQ: Tenho receio quando se muda uma lei do sistema financeiro. As leis, feitas pelos banqueiros, são para beneficiar a si próprios. Como agora. A norma estabelecia regras para a conta CC5. É conta de não-residente, de estrangeiro no Brasil. Em linguagem fácil: estrangeiro vem portando 100.000 dólares e quer comprar alguma coisa. Quer ter uma vida social aqui, e pega esses 100.000 e registra. Se investe numa carrocinha de pipoca, o dinheiro gerado ele vai depositar nessa conta CC5, que permite a ele voltar com esses recursos ganhos. Ela foi feita, na concepção reconhecida mundialmente, pra trazer investimentos pro país. Não pagava imposto.

MYLTON SEVERIANO – E como é que os bandidos do colarinho branco usam?
PQ: No caso Banestado, o esquema é montado com banqueiros do Brasil, pra tirar dinheiro daqui. Se pegar os recursos que ingressaram e os que saíram, vai ver, saiu mais dinheiro do que entrou.

WAGNER NABUCO – Eles precisavam de uma empresa-fantasma.
PQ: Ou montava uma empresa-laranja, ou eram estrangeiros-laranja. Até mesmo brasileiro que se permitia dizer que vendeu algum bem pro estrangeiro e depositava na conta desse estrangeiro que não existia. Simples. O sujeito abria poupança com 10 reais. No dia seguinte, chegava com 100.000. E o gerente aceitava. E sucessivamente. Transferia para a CC5, dizendo que tinha vendido algum bem para aquela “empresa” estrangeira. Eles usavam pessoas humildes, empregada doméstica, desempregado, ambulante. Por que surgiu o “conheça o seu cliente”? Porque o Protógenes começou a prender gerente, diretor, e a discutir, “não leve a mal, mas vocês estão sendo indiciados porque, como é que, em sã consciência, aceitam abrir conta de um pipoqueiro com 10 reais e no dia seguinte aceitam 100.000 sem falar ‘Você vendeu muita pipoca, hein?’, e não aceito dizer que precisa cumprir metas”. Mas chega um momento que o volume de dinheiro era tão grande, que o gerente passou a entrar no esquema. Quando passa a cumprir hora extra, chegar mais cedo, sair mais tarde, virar a noite, já foi tragado pelo sistema e já recebe pra abrir conta laranja. O lavador de dinheiro já não tinha preocupação, “ô, meu amigo, abre mil contas pra mim aí”.

WAGNER NABUCO – E aí já estava abrindo conta com CPF falso.
PQ: Tinha de tudo. Mais de 100 bilhões de dólares saiu. Tinha um ex-diretor do Banco Central paraguaio que consegui o mandado de prisão. Saturnino Ramirez. Movimentou 1 bilhão e 400 milhões de dólares num ano e meio. Identifiquei caixa dois, dinheiro de narcotráfico. O grande volume foi de desvio de recurso público, o que me deixou chateado. Aí pegamos os políticos. Sim, Maluf estava lá. Daniel Dantas.

WAGNER NABUCO – Não entra só político.
PQ: Tem OAS, Mendes Júnior, Odebrecht, a Queiroz Galvão. Todas as grandes construtoras. Você vai investigando, vai dar nas construtoras e na concorrência pública. E nos políticos.

MYLTON SEVERIANO – Em Foz do Iguaçu quem foi preso?
PQ: Muitos. Passei quase dois anos lá. O primeiro ano foi difícil, começo a cercar os tubarões. Indiciei o sobrinho do Jorge Bornhausen, Alberto Dalcanalle Neto, em 174 inquéritos, vou para Curitiba, muita pressão. Fiz inspeção no banco dele, Araucária, logo o Banco Central fechou o banco. O presidente do Banco Central era o Armínio Fraga, “doutor Protógenes, estamos preocupados”, falei “quer arrumar um instrumento para me ajudar, fecha as contas CC5, o senhor acaba com a evasão de divisa, lavagem de dinheiro, estou enxugando gelo”. Qual era a resposta? “Se a gente fizer isso, cai todo o mundo aqui, não dá, faz parte do sistema.” Convidei colegas a ir embora ou se danar comigo, “vou passar urucum no rosto”.

MYLTON SEVERIANO – O que significa passar urucum no rosto?
PQ: Vou guerrear, com instrumentos que a lei me permite, falei “vamos pegar um caso de reflexo internacional”. Começamos a investigar um garoto chamado Victor Hugo Nunes, bonito, classe média. Transportava dinheiro do Paraguai e depositava na CC5. Sobrinho de uma senadora do Paraguai. Um dia, transportando 3 milhões e uns quebradinhos, de motocicleta, atravessou pro Brasil, na avenida Kennedy a gente “blum!”. Arrancamos a mochila, cheio de cheque. Engraçado que tinha um disquete já com a compensação do banco. A coisa estava tão sofisticada que, além dos 3 milhões, tinha mais alguns já compensados, colocava no computador e transferia: aquele dinheiro já tava em outro lugar. Que acontece quando prende alguém importante? Gritou imprensa, embaixadora, Parlamento, presidente do Paraguai. Na semana seguinte fecharam as contas CC5. Aí, manter preso o garoto. Tinha o juiz, eu disse “doutor Emerson, ele tem direito a fiança”, e foi a mais alta arbitrada no país. Pedi um milhão. O Emerson falou “você é louco, eu sou juiz novinho”, falei “também sou novo, se a gente não fizer isso não vamos acabar com a lavagem de dinheiro, estão sangrando o país, aperta a caneta aí”. Ele colocou 500 mil reais. A estratégia era saber quem ia pagar. Sabia que era alguma autoridade. O garoto foi solto, cheque de quem? Presidente do Banestado. Reinhold Stephanes.

MYLTON SEVERIANO – Atual ministro da agricultura.
PQ: Aí comprovei que estava no esquema. Pra se livrarem do problema maior fecham as contas CC5. Permaneci um tempo, porque tentaram, um banqueiro, uns doleiros, me comprar, ofereceram 5 milhões de dólares, e viram que não tinha chance, aí fizeram um plano pra me executar. Minha esposa grávida teve que ir embora, eu andava com quatro colegas fazendo a segurança.

PALMÉRIO DÓRIA – E o caso do Law Kim Chong?
PQ: O chinês era poderoso e tinha ligações na Polícia Federal, provavelmente algo ligado a financiamento de campanha, ligações na sociedade paulista. Um mafioso você vai pegar naquela situação mais simples. A complexa é onde ele está preparado. Qual seria a espinha dorsal dele? Contrabando e pirataria, talvez atividades municipais. Aqui, vou bater nele e voltar. Passo cinco anos investigando e busquei a via mais frágil, a corrupção.

MYLTON SEVERIANO – E como se deu?
PQ: Estamos com a CPI da Pirataria, o presidente é o deputado Luiz Antônio Medeiros, e me procura, “o Law quer me pagar 2 milhões de dólares pra deixá-lo fora da CPI”. Passei ao plano de pegá-lo naquilo que ele seria frágil, pagamento de propina. O deputado passa a fazer uma ação controlada (é acompanhada pelo Ministério Público e pelo juiz), com um assessor, o Fernando, policial rodoviário, e o Fernando fica com medo. Falei “deputado, não vou perder esse trabalho, haverá um prejuízo grande pra sociedade”, “qual a saída?”, “precisa arrumar outro”, “quem?”, “o senhor”, “eu?”,”sim, você não foi do Partido Comunista? Não foi exilado na Rússia? Tem todos os requisitos pra uma operação de infiltração”, “eu topo”. Firmeza. Falei “o Law não confia em ninguém, chega um momento que tem que estar presente com o dono do negócio, e o senhor é o dono”.

MYLTON SEVERIANO – O Medeiros não ficou nervoso?
PQ: Ele foi muito frio. Corajoso. É produzido um encontro em Araraquara. E o deputado, embora nervoso, sai muito bem. O chinês é um iceberg. Entrou, logo tira o paletó, o que sugestiona “não tenho gravador, nada”. O deputado, “não vou tirar meu paletó, ou confia ou pode ir embora”. E cheio de equipamento por baixo.

“Me ofereceram 5 milhões, e viram que não tinha chance, aí fizeram um plano para me executar.”

MYLTON SEVERIANO – É uma casa térrea…
PQ: Um hotel. Esse vídeo é fantástico. Um diálogo sugestionado por nós. O Law marca pra entregar o valor num ninho nosso, São Paulo. Você pensa “vai marcar um local de confiança e depois mudar”. É um misto de probabilidades, oportunidades, sorte. Ele indicou o shopping Center Norte, seria uma carnificina a prisão dele, poderia ter reação. Os guarda-costas dele eram policiais militares, falei “o lugar provável que ele vai trocar, Medeiros, vai ser seu escritório”. O locai onde ele mais confiaria, “sou o corruptor, vou marcar na casa do corrupto, se for preso levo ele”. Chega no shopping, entrega o dinheiro para o intermediário, o telefone toca e o Medeiros ouve “não vai ser mais no shopping, vai ser no seu escritório”. Saímos batendo carro, chegamos minutos depois do intermediário chegar com o dinheiro. O Law já em fuga. Veio um grupo executar a prisão, uma parte do Rio, uma parte de Florianópolis. Ele é preso entre onze horas e meio-dia. Tava na garagem da rua 25 de Março pra pegar o carro.

MYLTON SEVERIANO – O encontro pra dar dinheiro pro deputado foi que hora?
PQ: Meio-dia. Nós tínhamos um informante em frente daquela loja de pedra dele, Brasil Stone, e ligou, “tá atrás da pilastra no estacionamento”, e chegam os nossos, seis, e ele tinha quinze seguranças, sacaram as armas, e ele pergunta “vocês são policiais de São Paulo?”, “não, diretoria de inteligência de Brasília”, “logo percebi”. Engraçado, mas é triste, ele não aceitaria traição. A única condenação dele foi por corrupção.

PALMÉRIO DÓRIA – A do Maluf talvez seja a prisão mais emblemática, você pega o político.
PQ: Tem uma história pesada, a sociedade paulistana se identifica com o modo político, o “rouba mais faz”. O Ministério Público vai à Polícia Federal em 2001 procurar o delegado que vem de Foz do Iguaçu, “temos um expediente aqui e queremos o delegado Protógenes”. Foi produzido um volume de informações, uma sala de documentos. Pedimos quebra de sigilo bancário internacional. Demorou uns três anos, chegou em 2004. Um marco, nenhum paraíso fiscal manda informação. A Suíça foi a primeira. O marco foi o 11 de setembro de 2001, os atentados. Há uma nova ordem financeira internacional. Ele tem dupla cidadania, brasileiro e libanês. E a cada ano vivia oito ou nove meses no Oriente Médio. Um mês em Paris. E quando chegaram os documentos no início do governo Lula, o Márcio Thomaz Bastos [ministro da Justiça] cria um departamento chamado DRCI [Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional]. Os documentos vieram bagunçados. Fora de ordem, faltando. Quer dizer, um departamento que era para facilitar a recuperação de recursos ilícitos, dificulta. Antes tínhamos contato direto com as autoridades internacionais, hoje vai ter contato com esse departamento. Já entrei em choque. Só tive uma reunião com esse departamento. O diretor hoje advoga para um dos escritórios que advoga para o Daniel Dantas. O dono foi procurador da Fazenda, Madruga; e tinha uma procuradora também, chamada Vani. Na primeira reunião queriam ditar regras e normas na investigação do Maluf. Eu disse “vocês recepcionaram documentos e bagunçaram, vou apurar responsabilidades”. Esse departamento foi criado para dificultar. Comecei a traçar estratégias para prender o Maluf. Descobri o doleiro, Vivaldo Alves. Mexia no fio do telefone dele, mulher, filho, de mais doleiros, “se tiver uma relação de confiança com o Maluf, a primeira pessoa com quem vai gritar é com o patrão”. Não deu outra.

PALMÉRIO DÓRIA – Grampo?
PQ: Exatamente. O Flávio Maluf foi quem começou a cair, telefone de uma empresa, se não me engano de alimentação. E o Maluf cai justamente na corrupção. Propina ao doleiro, para mentir na investigação. Só que no grampo também cai a juíza que determina o grampo. Na interceptação, dizia-se “fala com aquela senhora, da segunda vara”, e no dia seguinte tinha um despacho dela obstruindo o trabalho. Falei com o procurador, “vou prender essa mulher”, e ele, com temor, fala para ela. E me disse. Quando ele falou para ela, ela fala para o Maluf. Quer dizer, para o advogado do Maluf, o José Roberto Batocchio. Ela chama o Batocchio no gabinete, à noite. Batocchio sai de lá às dez da noite. No dia seguinte vai à superintendência, pedindo medida cautelar, “quero vistas da interceptação que o senhor está fazendo contra meu cliente”. Olhei para ele, “sinto não poder”. “O senhor vai cumprir sim.” “Não vou! Fale para o seu patrão, e para a doutora Silvia, sua amiga particular, que ela venha ao meu gabinete me obrigar a cumprir essa ordem judicial.” “Vou representar contra o senhor, o senhor é louco.” “Represente muito bem. Se não, vou representar contra o senhor também. Agora, minha representação o Brasil vai conhecer.” Ele saiu louco da vida. E trato de fechar a operação. Já tinha vazado. Mandei o relatório para ela, pedi a prisão preventiva do Maluf e do Celso Pitta. Ela ficou nervosa.

MYLTON SEVERIANO – Tinha que ser com ela.
PQ: Ela pega uma cópia do relatório e entrega para o Batocchio. E o Batocchio chama jornalistas. A Lilian Christofoletti, da Folha de São Paulo, e Fausto Macedo, do Estadão, salvo engano. Dois de confiança, para divulgar. Mandei recado para o procurador, “fale com a doutora Silvia, ela tem que decretar a prisão do Maluf, senão vou prendê-la, o nome da senhora está no grampo”. Foi uma agonia para que ela decretasse a prisão. Ela decreta. E sai de férias.

MYLTON SEVERIANO – Decretou de todos que você pediu?
PQ: Não. Ela não decreta a do Pitta. Só do Maluf e do filho. Falei “um dia vou buscálo”.

WAGNER NABUCO – Mas por que, em geral, o furo é da Globo?
PQ: O furo só reconheço se for bom pra sociedade. A Thais Oyama, da Veja, teve um furo que furou meus olhos. Foi a máfia do apito. Ela destruiu um trabalho. E o que mais doeu foi que me disse “sua investigação vai ser matéria de capa e vender 150 mil revistas”. “Thais, descobrimos corrupção, tem jogadores envolvidos, árbitro, dirigente. Tenho consolidada a fraude na arbitragem, não tenho a fraude nos atletas e nos dirigentes.” “Não interessa! Já está fechado.” Quando é na sexta já está na internet. Os bandidos fugiram. Não se pode fazer isso.

PALMÉRIO DÓRIA – Estamos prontos para falar da Satiagraha? Como ela sai do mensalão e vira o que virou?
PQ: A origem não é mensalão, é Operação Chacal. A investigação da Parmalat, envolvida em fraude na Itália e no Brasil. Lavagem de dinheiro, evasão de divisas. Investigação presidida pelo delegado Elpídio Nogueira. Ele monta uma estação de trabalho em São Paulo, em 2003, 2004. O Elpídio entra em parafuso, vai para tratamento. E o doutor Paulo [Lacerda, ex-chefe da PF] decidiu ficar em cima da Kroll, junto com a Parmalat, a que a Kroll prestava serviço. E descobre que a Kroll é uma empresa americana de espionagem. Uma estação privada da CIA aqui. Esse volume de dados vai para a diretoria de inteligência, e descobrimos que a Kroll seria também um braço de espionagem que servia ao grupo Opportunity, à BrasilTelecom. E nasce uma operação para investigar a Kroll. A Operação Chacal.

MARCOS ZIBORDI – Daí sai o HD do Oppotunity, na verdade cinco.
PQ: Não. É um. Ele depois é copiado. Na Chacal, vem junto o grupo Opportunity do Daniel Dantas. Ele usa a Kroll para espionar adversários dele.

WAGNER NABUCO – Gente do governo?
PQ: Sim. Gushiken, ministro da Comunicação, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, presidentes de banco, Fundos de Pensão, Banco Central, Banco do Brasil, ministros… Pra que possa ter um dossiê de todas essas pessoas. Quando a Chacal chegou no Opportunity é que apreende um HD. Estava ligado ao desktop ligado ao banco. Tipo 160 gigas de memória. O juiz determina a apreensão, e quando chega a Brasília já tem um grupo de advogados com decisão judicial para lacrar. O Ministério Público recorre e vai ao TRF [Tribunal Regional Federal] e me parece que o TRF determina que se abra o HD. Aí o Opportunity vai ao STF [Supremo Tribunal Federal] e o STF determina que se lacre.

PALMÉRIO DÓRIA – Ellen Gracie?
PQ: Ministra Ellen Gracie. Uma decisão oportunista. O que é que pode ter um HD que a Justiça não possa conhecer, a polícia? E fica uns dois anos parada a investigação. Aí surge o mensalão. Tudo no País, as grandes fraudes, podem ter certeza que não são visíveis de imediato. Mas vai ser visível. A mentira perdura pouco. A verdade é eterna. Igual ao caso Maluf. Com um pedido vagando no espaço, de quebra de sigilo, três anos, e veio tudo. O suficiente para o povo conhecer que houve desvio de dinheiro público, corrupção.

RENATO POMPEU – E ele sumir politicamente.
PQ: Esperamos. E, depois do regime militar, foram com muita sede, não de resolver o problema político, mas de se sustentar no poder, e muita sede de se apropriar dos recursos públicos. Muita sede de dinheiro. Estamos presenciando uma construção de valores muito baixa. E se sustenta porque a sociedade parece hipócrita, idiota. Pode parecer, mas não é! Chega um momento que vai exigir. As autoridades honestas, que têm compromisso com essa sociedade, vão fazer valer seu exercício.

RENATO POMPEU – Estávamos na Operação Chacal.
PQ: Como é que deslacra o HD? É um país de escândalos, vamos esperar o próximo e vamos abrir o HD. E vem o mensalão. Parte de um grupo pequeno, eles se revezam no poder. Coisa absurda! Não vê agora? Acaba uma eleição municipal e o Lula vai lá sentar com o Serra. Sorrindo, de braço dado.

FERNANDO LAVIERI – Um ato político.
PQ: Tem que se conversar com todo o mundo. Mas ali, para mim, é uma ironia com nós eleitores. Com o povo! Vai me desculpar, um desrespeito! Não me sinto feliz em ver aquela cena não! Tipo “você está perdendo o poder, estou ganhando, mas vou te segurar”. Todo o mundo com sorriso irônico, Sérgio Cabral, Serra, Aécio, Hartung, o que é isso? Mas então, abrimos o HD. As personagens são as mesmas. Encontramos os doleiros do mensalão, que servem ao Daniel Dantas, ao Naji Nahas.

WAGNER NABUCO – E que serviram em Minas o Marcos Valério?
PQ: Marcos Valério. Eduardo Azeredo. Nasce a Satiagraha. Que poderia ser melhor, já pensou? Satiagraha depois das eleições? Que vitória para o país! Só que muita gente teria que se mudar daqui. E é aberto o HD numa estratégia do Ministério Público e Polícia Federal, em que é provocado o juiz de primeira instância: o ministro Joaquim Barbosa [STF] manda expedientes para vários Estados para complementar a diligência e a ação judicial que tramitava no Supremo, em que ele era relator. A rigor, ele deveria concentrar no Supremo, mas, para otimizar o processo, inteligentemente descentraliza a ação junto a juizes de primeiro grau. Aí, conseguimos provocar a Justiça, e tinha doleiros ali que tinham relação com o Opportunity já no caso Banestado, lá atrás, desde 1997. E conseguimos uma decisão judicial para que a juíza deslacrasse o HD e permitisse que a Polícia Federal verificasse se tinha algum dado que importasse em crime financeiro envolvendo pessoas do mensalão. Encontramos um volume de dados muito grande e a juíza deu um prazo exíguo para exame, e nós, em trinta dias, identificamos que não tinha, a princípio, nenhum mensaleiro ali, mas um volume de dados que dava conta de uma série de indícios de crime financeiro e lavagem de dinheiro envolvendo muita gente, pessoas físicas e jurídicas.

RENATO POMPEU – A impressão é que o senhor esteve o tempo inteiro investigando o mesmo polvo, cada hora pegando um tentáculo, e um dia vai chegar na cabeça.
PQ: Raciocínio perfeito. Sempre cheguei na cabeça, só não deu pra pegar. Tem a dívida externa, que é a coisa mais nojenta que já vi. Aquilo tinha que ser batido e rebatido, sabe? E quem participou está hoje aí. Foi presidente.

FERNANDO LAVIERI – Conta.

PALMÉRIO DÓRIA – Você está falando do Fernando Henrique Cardoso?
PQ: Fernando Henrique Cardoso.

PALMÉRIO DÓRIA – Você está falando do Paribas, de como o presidente manipulou e ganhou com isso?
PQ: Exatamente. Nossa dívida externa é artificial e eu provei isso na investigação. Houve repulsa minha porque quando era estudante empunhei muita bandeira “Fora FMI”, “Nós não devemos isso”.

MYLTON SEVERIANO – “A dívida já está paga”.
PQ: “A dívida já está paga”. E foi muito jato d’água, muita cacetada, muito gás lacrimogêneo, “bando de doido, tem que tomar porrada, pau nesses garotos”. Você cresce achando que era um idiota, não é? Chega um momento que pensa “a dívida foi criada no regime militar, mas a gente precisa pagar”.

FERNANDO LAVIERI – Como você provou isso?

PALMÉRIO DÓRIA – O jogo começou a ser jogado no Ministério da Fazenda?
PQ: Sim. Querem essa história?

TODOS – Sim!
PQ: Vocês não vão dormir direito. Isso é para maiores de 50 anos. Estamos em 2002, me atravessa as mãos o expediente para um banco francês, “esse banco eu conheço, é sério”. E a suspeita que investigo é fraude com títulos públicos brasileiros, negociados no mercado internacional, títulos da dívida externa. Negociados na década de 1980: o que chama atenção?

MYLTON SEVERIANO – Fim da ditadura.
PQ: E transição para o regime civil. José Sarney pega o país em frangalhos, devendo até a alma, sem dinheiro para financiar as contas públicas, muito menos honrar compromissos, a famigerada dívida com o FMI. Havia até o “decrete-se a moratória”. Era o papo nosso, da esquerda, dos estudantes, “não vamos pagar, já levaram tudo”. E o Sarney, o que faz? Bota a mão na manivela e nossos títulos da dívida externa valiam, no mercado internacional, no máximo 20% do valor de face, era negociado na bolsa de Nova York. No paralelo valiam 1%. O que significa? Não passa pela bolsa. Comprei, quero me livrar, então 1% do valor de face, título de um país “à beira de uma convulsão social, ninguém sabe o que vai acontecer com aquele país, um conjunto de raças da pior espécie”: essa, a visão primeiro-mundista, o que representávamos para os banqueiros. Escória. E aqui estávamos, discutindo a reconstrução do país. Vamos dialogar, botar os partidos para funcionar, eleições, e o Sarney tendo que dar uma solução. Fecha a manivela e toca a jogar título no mercado de Nova York. Cada título que valia 10%, 15%, mandava dinheiro aqui para dentro. Seis anos depois, o mercado financeiro internacional detectou que no Brasil haveria desordem, até guerra civil, e eles não iam receber o que tinham colocado aqui com a compra dos papéis podres, queriam receber mesmo os 15%. E fazem uma regrinha de três e colocam para o Banco Central: “Você vai instituir uma norma, os títulos da dívida externa brasileira adquiridos no mercado financeiro internacional, no nacional poderão ser convertidos junto ao Banco Central pelo valor de face desde que esse dinheiro seja investido em empresas brasileiras.” Bacana, não? Se funcionasse como ficou estabelecido, nosso país seria uma potência, não? Ainda que uma norma perfeita, acho um critério não normal, não é? Não é moralmente ético eu comprar um título por 15% e ter um lucro de 100%, em tão pouco tempo. Mas enquanto regra de mercado financeiro tenho de admitir que sou devedor. Se vendi a 15%, na bolsa, assumi o risco de, no futuro, o lucro ser maior para o credor. Tenho que pagar. Foi assim que foi feito? Não. Será que o grupo Votorantim recebeu algum dinheiro convertido? Alguma outra empresa nacional do porte recebeu? Não. O que o sistema montou? Uma grande operação em determinado período para sangrar as reservas do país, e ainda tinha as cartas de intenção, que diziam “se você não me pagar posso explorar o subsolo de 50 mil quilômetros da Amazônia”.

WAGNER NABUCO – Era a fiança?
PQ: Sim. Então me deparo com um banco, o Paribas, hoje BNP-Paribas que se uniu ao National de Paris. Com três diretores, em São Paulo, e dois outros, mais um contador que foi assassinado e um laranja que se chamava Alberto. O banco adquire esses títulos, no valor de 20 milhões de dólares, não é? E converte no Banco Central e aplica em empresas brasileiras, empresas-laranja. Comprou no paralelo a 1%, eram 200 mil dólares, e converteu a 20 milhões de dólares aqui no Brasil e colocou nessa empresa-laranja…

MYLTON SEVERIANO – Empresa de quê?
PQ: De participações. Chamava-se Alberto Participações, com capital social de 10 mil reais. Já tem coisa errada. Como uma empresa com capital de 10 mil reais pode receber um investimento estrangeiro da ordem de 20 milhões? Cadê o patrimônio da empresa? Como é que o Banco Central aprova? Mando pegar o processo. Ela investiu, vamos ver aonde o dinheiro vai. Converteu os 20 milhões e ao longo de doze meses o dinheiro é sacado mensalmente na boca do caixa em uma conta e convertido no dólar paralelo e enviado para a matriz em Paris. Eu digo “Banco Central, me dá o processo do Paribas”. Aí não consigo, quem consegue é o procurador que trabalhava comigo, Luiz Francisco. Consegue e remete pra mim em São Paulo. Vejo que no Banco Central houve uma briga interna pela conversão. Os técnicos se indignaram, e indeferiram. Ai houve uma gestão forte para que houvesse a conversão. De quem? Do ministro da fazenda. Que era quem?

MYLTON SEVERIANO – Fernando.

MARCOS ZIBORDI – Henrique.

MYLTON SEVERIANO – Cardoso.
PQ: Tento localizar os banqueiros. Todos fugiram. Os franceses todos. O contador, assassinado. O laranja Alberto morreu de morte natural, assim falam no Líbano, onde ele morreu. E me sobra a sócia dele, uma senhora chamada Célia. Morava na Avenida São Luís. Ah, é? Um foi embora, outro fugiu, outro morreu, outro foi assassinado: querem brincar com a Polícia Federal? Com a dívida externa do Brasil? Descubro essa sem-vergonhice, essa patranha, essa picaretagem de fundo de quintal que acontecia enquanto nós estudantes lutávamos, dizíamos que a dívida externa não existia, e, de fato, parte dela era artificial. A coisa é grave, vamos fazer uma continha, nós contribuintes, que cremos que existe uma ordem no país. Títulos que adquiri por 200 mil, converti no Brasil os 20 milhões de dólares, quanto tive de lucro? 19 milhões e 800 mil. Vamos fazer essa continha para vocês dormir direito hoje. Esses 19 milhões mandei para minha matriz, o papel está na minha mão ainda, porque dizia o seguinte a norma do Banco Central: ao converter esse título, invista em empresa brasileira, e ao final de doze anos “Brasil, mostre a sua cara e me pague aqui, você me deve, pois sou credor dessa nota promissória chamada título da dívida externa brasileira”. Está na lei. Bota aí. Soma 20 milhões com 19 milhões e 800 mil: 39 milhões e 800 mil. Nós devemos isso aí? E mais, o que pedi? Que o juiz bloqueasse o título do Paribas, não pagasse, indiciei os diretores. Por quê? Porque estava se aproximando o final dos doze anos, o título estava vencendo e tínhamos que pagar. Pedi que o Banco Central enviasse cópia de todos os processos de conversão da dívida externa brasileira pra mim. Estou esperando até hoje. Sabe o que o Banco Central falou? “O departamento não existe, nunca existiu, era feito por uma seção aleatoriamente lá no Banco Central.” Então nós não devemos esse montante de milhões que cobram.

RENATO POMPEU – Só não entendi o que o Fernando Henrique Cardoso ganhou com isso.
PQ: Calma, calma. Sobrou uma para contar a história. A Célia da Avenida São Luís. A mulher de verdade. Era companheira do Alberto, exembaixador do Brasil no Líbano. Quando estourou a guerra ele fugiu e viveu na França, estudando na Sorbonne. Quem ele conhece lá?

MYLTON SEVERIANO – Fernandinho.
PQ: Colegas de faculdade. A Célia, marquei depoimento numa quinta, véspera de feriado, às seis da tarde na superintendência da Polícia Federal. Uma morena bonita, quase 60 anos, me disse que tinha sido miss, modelo, era sócia nessa empresa, tinha tipo 1%. Furiosa, “que absurdo, véspera de feriado, perder meus negócios, engarrafamento”. Já estava gritando no corredor. Dei um molho de uns trinta minutos até ela se acalmar. Pensei “essa mulher está furiosa e tem culpa no cartório”. Falei “obrigado por ter vindo”, e ela “obrigado nada, o senhor é indelicado, desumano, sou dona de uma indústria de sorvetes, e me chama numa hora importante porque tenho que distribuir sorvete, é feriado, o senhor não tem coração”. No meio da esculhambação, digo “tenho que cumprir meu dever, sou funcionário público”, e ela “aposto que é o caso daquele Paribas, não sei por que ficam me chamando, e tem mais, fui companheira do Alberto, e ele foi muito mais brasileiro que muita gente. Era digno, honesto, ficam manchando a alma dele. Eu ajudei ele até o fim da vida, inclusive sustentei parte da família dele”. Percebi que não sabia a verdade, ela disse “ele morreu pobre, ficou esperando a conversão dessa dívida que nunca houve”. Detalhe: na quebra de sigilo bancário encontrei um cheque do Alberto que ele recebeu, 64 milhões, na boca do caixa do banco Safra. E ele transfere as cotas para uma empresa criada pelo Paribas em nome dos diretores.

MYLTON SEVERIANO – No Brasil?
PQ: Já é um Paribas do Brasil. Transfere para a subsidiária, e os diretores começam a sacar. O primeiro que recebe é ele, valor equivalente a 5%. E ela disse “ele não recebeu a comissão dele que era de 5%”. Bateu! Tranquei o gabinete, falei “vou mostrar um documento, mas se disser que mostrei, prendo a senhora”, era a cópia do cheque, com assinatura e data. A mulher começou a chorar. “Desgraçado. Que o inferno o acolha!” Ela disse “tenho muito documento na minha casa”. Se fizesse pedido de busca e apreensão chamaria atenção da Justiça, teria um indeferimento. Essa investigação estava sendo arrastada. Fiz uma busca e apreensão ao inverso, “a senhora permite que selecione o que quero?”, ela disse “perfeito”. Naquela véspera de feriado, peguei dois agentes, contrariando colegas que queriam ir embora…

MYLTON SEVERIANO – Qual o ano?
PQ: 2002. Saímos de lá de madrugada, era um apartamento antigo, magnífico. Ela chorando, “desgraçado, até comida na boca eu dei”. Ela me dá uma agenda, “aqui parecia o Banco Central, eu atendia o doutor Alberto, da área internacional”. Encontrei documentos, agendas que vinculavam ele ao Armínio Fraga, ao Fernando Henrique, inclusive uma carta manuscrita, não vou falar de quem, depois confirmada, ela falou “levei esse presente, pessoalmente, até a casa do Fernando”. Mandei documentos para perícia. Na época era eleição do Fernando Henrique.

RENATO POMPEU – Não, do Lula.
PQ: Isso. Lula venceu contra Serra. Fernando Henrique era presidente.

RENATO POMPEU – Ele recebeu dinheiro então?
PQ: Vamos pegar a linha do tempo. Ele sai de ministro da Fazenda e vira presidente. O gerente da área internacional que dá o parecer no processo, quem era? Armínio Fraga. Que presidiu o Banco Central. Essa investigação não sei que fim deu. Pedi ao Banco Central o bloqueio de todos os títulos da dívida externa brasileira que foram convertidos. E pedi cópia de todos os processos de conversão junto ao Banco Central para investigação.

RENATO POMPEU – Saiu na mídia?
Em parte, mas foi abafado. Quem conseguiu publicar foi, se não me engano, a Época.

PALMÉRIO DÓRIA – Citando Fernando Henrique?
PQ: Não, não citou. A reportagem era “Fraude à francesa”. Essa investigação surge da denúncia de um advogado, Marcos Davi de Figueiredo. Ele sofre uma pressão implacável dentro do banco. A Célia passa a ser ameaçada, logo que presta depoimento entregando tudo. Inclusive os escritórios que deram suporte a essa operação, um do Pinheiro Neto, e ela diz que sofria ameaça do próprio Pinheiro Neto. O procurador foi o doutor Kleber Uemura.

MARCOS ZIBORDI – É a última notícia?
PQ: Sim. Parece que ele tinha conseguido a quebra de sigilo bancário. Depois o dinheiro saiu no mercado paralelo e entraram grandes empresas com esquemas de saída de dinheiro. Tinha a Cotia Trading, que tinha uma coisa com a Volkswagen. Entra gente muito poderosa no esquema. Pedi a quebra de sigilo de todas as pessoas que participaram da fraude. E o Kleber conseguiu, aí não acompanhei mais. O Tribunal Federal deu a decisão de que era para não ter quebra de sigilo, era a juíza, salvo engano, Sylvia Steiner. Dá decisão favorável ao banco. Meses depois é nomeada juíza do Tribunal Penal Internacional pelo…

RENATO POMPEU – …excelentíssimo presidente da República.

MYLTON SEVERIANO – Que história, hein?

PALMÉRIO DÓRIA -Vamos para a Satiagraha?
PQ: Quer chegar lá? É muita picaretagem. E feito por uma minoria e estão aí de braço dado. Se você bater de frente é uma força desigual. É quebrada uma conta estratégica. Vislumbramos indício de crimes financeiros. A juíza tinha que determinar a abertura de nova investigação.

MARCOS ZIBORDI – Esse pedido não é feito pelo senhor.
PQ: Exatamente: polícia chamava atenção. Então, Ministério Público. Passamos a analisar aquele HD. Começam a se estruturar dois grupos de trabalho, um em torno do delegado Elzio Vicente. Começo a sobrecarregá-lo com demandas, ele não suporta, investigar o Daniel Dantas é coisa pesada. E ele se apresenta para o senhor Paulo e diz “não estou conseguindo acompanhar o Queiroz”. Fico só com a investigação, com uma condição, que o doutor Paulo ficasse até o final do governo Lula. Digo: “Por uma razão: se o senhor não ficar, essa investigação para.” Ele disse “tenho compromisso com o presidente de permanecer”. Eu disse “essa investigação para no dia seguinte que o senhor sair”. É complexa a capilaridade que o Daniel Dantas tem ao longo desses 20 anos, desde o Fernando Henrique. Só para terem noção, ele tem uma empresa de exploração de mineração, MG4, que tem mil concessões de exploração de solo urbano. É necessário você ter uma força muito grande dentro do governo. Eles já estavam ofertando a empresa lá fora, no Oriente Médio. O intermediário era o Naji Nahas. Isso significa vender nosso país in natura.

FERNANDO LAVIERI – Não basta poder financeiro, tem que ter poder político.
PQ: Exatamente. Ele tem muita gente na mão. E prenuncia, a todo tempo, que se acontecer qualquer coisa com ele, ele fala. Uma pessoa falou: “Protógenes, se o Daniel Dantas falar, eu prefiro que ele fique preso.”

PALMÉRIO DÓRIA – Houve um momento em que ele disse “vou falar”?
PQ: Ele disse que ia falar quando da segunda prisão. Tinha certeza que iria ser solto.

WAGNER NABUCO – Você imaginava que seria solto?
PQ: Sim, mas não tão rápido.

PALMÉRIO DÓRIA – Até porque tinha gravado que “lá em cima” ele resolvia.
PQ: Exatamente. No STJ estava tranquilo. Estruturamos a segunda prisão. Mas não pensávamos que o STF iria contrariar toda a opinião pública, todas as regras jurídicas, todas as normas processuais.

MYLTON SEVERIANO – Vocês não esperavam que ele pudesse ter tanta força política?
PQ: Não. E é um poder sem precedentes. Foram sucessivos atos que dão conta de que ele é uma pessoa muito poderosa e que esse poder viria com uma velocidade e uma força que se moveria contra quem quer se opusesse a esse grupo.

PALMÉRIO DÓRIA – Não era marolinha, era tsunami.
PQ: Tsunami. E era o poder de um grupo. Ele representa um grupo, interesses, determinado segmento bem solidificado durante a redemocratização, que construiu um poder criminoso. Seria o PC [Paulo César Farias, homem forte de Fernando Collor] que deu certo.

WAGNER NABUCO – Na segunda prisão você disse que ele abriria o jogo.
PQ: Estávamos indo na viatura. Ele me fala olhando com respeito. Muita frieza. Ele é frio. No início a mídia foi avassaladora contra, com velocidade, peso nas manchetes. Eu tinha falado “o senhor tem a grande mídia nas mãos, porque financia; agora, não use contra esse trabalho, nem contra mim, porque um dia pode se voltar contra o senhor. A grande mídia pode fomentar mentira por alguns dias, mas uma hora a opinião pública fica saturada. Isso um dia para”. Ele pergunta se tenho prova e digo “sim, está na investigação”. Ele: “O senhor está enganado, eu não financio.” Com frieza, calma. Na segunda prisão peguei os periódicos e coloquei em cima da mesa. Tinha um jornal, ou revista, que publicou matéria contra ele e coloquei no meio. Ele entrou, olhou a mesa de jornais. Quando identificou aquela lá, pergunta: “Quem é que fabricou isso aqui?” Aí ele confessou. Deu certo a estratégia. Mas não vou dizer quem fez a matéria.

PALMÉRIO DÓRIA – A política chegou a ponto tal, de repente você votou no Lula, e batendo boca com o governo.
PQ: Não só votei no Lula como ajudei na construção do partido dele no Rio.

PALMÉRIO DÓRIA – De repente ele batendo boca com você.
PQ: O primeiro sentimento foi o de servidor público, teria que cumprir uma ordem presidencial. E me otimizei para concluir a investigação, e consegui a primeira parte. Diz respeito ao crime de corrupção ativa, e de gestão fraudulenta, salvo engano por corrupção ativa que vai ser condenado.

MYLTON SEVERIANO – Mas não ficou para a opinião pública que você foi afastado?
PQ: Esse é o meu sentimento como servidor público. Ele pediu que entregasse o relatório de forma pública. E externei meu sentimento como cidadão. Se vocês pararem nas minhas primeiras declarações, quando entrego o relatório, lembro como cidadão dos meus primeiros passos na democracia, lembrar de quando estava na Diretas-Já, tava no palanque desde Fernando Henrique até o presidente Lula, com Brizola, Ulysses Guimarães. O saudoso Tancredo Neves fez falta e ainda faz. E eu tô lá. Todo o mundo ovacionado, aqueles discursos, e o que mais me chamou atenção foi o Sobral Pinto – que leva o nome na minha turma de Direito -, o discurso dele se resume a uma frase: “No Brasil, o que mais temos que respeitar é o artigo 1o da Constituição Federal do Brasil: Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.” Acabou. Então, externei, como cidadão, que o poder vinha do povo. E eu tava obedecendo ao presidente, mas originariamente ao povo, que estava esperando minha conduta.

WAGNER NABUCO – Você conhece o Lula?
PQ: Eu o cumprimentei uma vez, no gabinete, num evento. Tive impressão de pessoa honesta, correta, origem humilde, e externa esse sentimento, chegou como chefe de uma importante nação com apoio popular. Mas durante a gestão, a grande dificuldade seria, nós estranhamos, em determinadas composições políticas, posturas, mesmo companheiros que traíram aqueles propósitos originais da causa operária, da causa social, de apoio aos movimentos sociais, de retribuição de todo aquele conhecimento que tinha do passado, de aplicar isso no presente.

PALMÉRIO DÓRIA – Engraçado, muitos desses companheiros são homens do Dantas hoje.
PQ: Não diria homens do Dantas.

PALMÉRIO DÓRIA – Do poder, e próximos dele.
PQ: Homens do poder, e não só do Dantas. Daniel Dantas representa um poder ainda invisível. É visível à medida que começamos a aprofundar a investigação. Ou até num debate público, ai as pessoas começam a se revelar. Marx dizia “os quadros da sociedade começam a se revelar através de um processo público em que as pessoas se posicionam”. Alguns com um ideai, outros com outro ideal. Às vezes me dizem “estão criticando a Satiagraha, a verdade é que foi um sucesso, pautou-se pela lei, pelas regras do direito penal brasileiro, pela Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Brasileiro. Tanto que vamos ter uma condenação em breve. Significa que o resultado das investigações foi legal.

PALMÉRIO DÓRIA – A gente vê tentativas pra desautorizar. A Veja inventou o grampo telefônico sem áudio. A outra é você ter apelado para a Abin.
PQ: Por que o auxílio da Abin? Eu estava fragilizado em recursos humanos, com uma operação gigantesca dessa precisaria uns 50 policiais. Me deixaram com cinco. Sobraram quatro até deflagrar a operação. Pensei que fosse uma situação de transição de um diretor para outro, depois percebi que não, era uma orquestração para me tirar todo suporte, para paralisar a operação. Você quer aniquilar o inimigo, acabe com seu suprimento, até pão com manteiga. Falei “tenho que ultrapassar esse obstáculo”. Recorri ao sistema ao qual pertenço, Sistema Brasileiro de Inteligência.

MYLTON SEVERIANO – Achou um flanco legal.
PQ: Sim. Tá em lei. Aqui [tira da bolsa a lei 9.883/99, para ler o parágrafo 2o do decreto 4.366/02, que a regulamenta]. Eles fazem a polêmica e não falam da lei. Não mostram à população. Numa simples leitura você entende:

“O Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção e análise de dados e informações, e pela produção e difusão de conhecimento necessário do processo decisório do Poder Executivo e em especial no tocante à segurança da sociedade e do Estado, bem como à salvaguarda de assuntos sigilosos do interesse nacional.” A Operação Satiagraha está mais para a segurança de Estado que pra sociedade. É para os dois, um misto. O que é o processo de obtenção e análise de informações? Vigilância eletrônica, convencional, ou seja, fotografar, filmar, gravar, investigar. Constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência: Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública; Departamento de Polícia Rodoviária Federal; e Coordenação de Inteligência da Polícia Federal. Hoje não é mais Coordenação, é Diretoria. Quem pertence? O Protógenes. Então eu estava autorizado por lei a chamar os colegas da Abin. Além disso, a rotina é trocar informações com outros órgãos, inteligência militar: Marinha, Exército, Aeronáutica; Abin, Receita Federal. Até um simples telefonema – uma rasurada num papel de pão, nós consideramos uma informação.

BRUNO VERSOLATO – Há uma informação que um emissário ou assistente do Gilmar Mendes [ministro e atual presidente do Supremo Tribunal Federal] jantou com um advogado do Dantas num restaurante japonês em Brasília. Na véspera da decisão do habeas corpus. Houve esse jantar?
PQ: O fato está sendo investigado pelo Ministério Público federal, não posso fornecer informações.

RENATO POMPEU – Entendi mal ou é possível elaborar uma lista de jornalistas que receberam dinheiro de Daniel Dantas?
PQ: Não diria que receberam, na investigação aparecem alguns. Não preciso mencionar, está nos relatórios.

RENATO POMPEU – O relatório remete para um anexo. E não tivemos acesso
PQ: Você tem uma rede de jornalistas que abasteciam Daniel Dantas ou faziam manifestação de mídia a favor dele, favoreciam negócios dele no presente, ou até mesmo projetos futuros.

RENATO POMPEU – Nós podemos ter acesso a esse documento? A lei permite, não?
PQ: Acredito que logo isso vai vir a público. Entendo que o Congresso tem que rever isso. Que o Supremo deveria liberar esses dados, ali estão nossos representantes. O povo tem que conhecer, não são dados privados. São públicos, mexeu com recurso público, com nosso dinheiro. Não quero saber justamente dos dados da vida privada da pessoa. Isso tem que ser preservado, a intimidade. Agora, onde tem fraude, temos que conhecer. Acho que vocês da imprensa têm um grande papel. Bater: o dado que tenha fraude, desvio de recurso público, embora captados em investigação sigilosa, temos que reverter, têm que ser de conhecimento público.

PALMÉRIO DÓRIA – A bancada do Dantas compreende quantos deputados, senadores?
PQ: O termômetro da bancada do Daniel Dantas no Congresso é o comportamento desses parlamentares no caso Satiagraha. É só ir atrás. Era legal vocês da mídia fazerem um placar. Deputado tal se manifestou. Marca um xis. E na eleição botar elegermos esse povo novamente.

AMANCIO CHIODI – As polícias estaduais reclamam que prendem e os juízes soltam. Na instância federal também é assim?
PQ: Não culpo assim, a polícia prende e a Justiça solta. Às vezes, um acusado é solto por deficiência legislativa. As nossas leis processuais protegem o bandido!

WAGNER NABUCO – O Dantas pode sair ileso? Ou ir para a cadeia?
PQ: Para a cadeia ele vai. Condenado. Em um primeiro momento. Agora, mantê-lo na cadeia depende de nós. Depende do povo.

MARCOS ZIBORDI – Não depende do judiciário?
PQ: Não. No judiciário ele sai no dia seguinte.

MYLTON SEVERIANO – O que você sentiu quando ele saiu livre duas vezes em menos de 48 horas?
PQ: Senti vontade de prendê-lo a terceira vez. Quase que o prendi. Tinha um fato para poder prendê-lo, mas iria criar uma crise. Já tinha manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal, membros dos três poderes um acusando o outro, determinado grupo político querendo criar uma nova situação, um passo atrás.

FERNANDO LAVIERI – Mas não seria bom uma virada de mesa?
PQ: Não. Eu não sou da teoria de quanto pior melhor. Para mim, quanto pior, pior. Esse quanto pior melhor eu aprendi com 14, 15 anos. Hoje vivemos no século 21: quanto pior, pior.”

E aí? O que achou?

Triste né…

E olha o PIG (Partido da Imprensa Golpista) tentando distorcer os fatos e criar sua própria ‘opinião pública’. Aqui não tem mané não Sra. Veja. Eu me informo com verdades, não com as suas mentiras.

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